27 de novembro de 2011

FAIR GAME: A VERDADE É UM ALVO FÁCIL


Nei Duclós

Fair Game é uma expressão que serviu de titulo para vários filmes. O mais recente é o de 2010, abordando a vingança do governo Bush contra uma agente da CIA,peça fundamental na história falsa das armas de extermínio em massa do Iraque. O foco é a informação privilegiada e o filme é a oposição entre dois ambientes: o confortável, americano, com escritórios, bibliotecas, escolas de rico, salas de jantar, sofás, carros, capotes, penteados, anfiteatros etc.; e o outro é caótico, pobre, sem teto (sempre ao ar livre), com casa com estruturas danificadas, armas, violência do terceiro mundo em conflito, de onde parte a ameaça sob uma luz ardida (o sol dos trópicos miseráveis).

Numa tradução livre, fair game significa alvo fácil, exposição pública justificada (é ”justo” que seja sacrificado). No caso, é a verdade que estava oculta e ao vir à tona vira alvo fácil da tirania. É encarnada na mulher que fingia ser apenas dona de casa com um bom emprego na área financeira mas que, sem ninguém saber, que comandava várias ações perigosas dos espiões americanos no front do Oriente Médio. Mulher fria, implacável, eficiente, casada com um embaixador aposentado, que entrega a mentira oficial sobre a existência das armas no Iraque. Ele tinha sido usado como fonte para justificar o ataque a Sadam Hussein depois do 11 de setembro. Quando viu a mentira, entregou tudo para a imprensa.

O governo retaliou e revelou que a mulher era uma agente da CIA, o que arrebentou com sua carreira, já que expôs um segredo de estado. Sean Penn está no papel do marido que declara guerra à Casa Branca e assim salva o perfil da pureza americana (o que jamais é deixado de lado, seja o filme da tendência política que for). Sean detona quando está puto em cena. Mas, como gosta de fazer charme com sua cara de choro, na hora de chorar fica over. Ele até se esforça tremendo o beicinho, mas fica ridículo.No geral, convence, com sua cara de testosterona vencida e gestos de Jack Nicholson antes da loucura. Trata-se de um tremendo ator, apesar de gostar do Chaves , que é um notório canastrão.

Naomi Watts é uma atriz boa, correta, convincente no papel duplo de agente e mãe de família. Mas na cena decisiva, da briga do casal, não segura. Quando Sam Sheppard aparece em cena, fica marcada a grife de Fair Game: filme do Partido Democrata. Ele interpreta um personagem que é a reserva moral da América, o avô aposentado das Forças Armadas, que inspira todos os atos da cidadania gringa, a mesma que toca o puteiro no mundo em nome da democracia (como fez na América Latina quando bordou o continente de ditaduras).

Esses filmes começaram a ser feitos no ocaso do longo período Bush e ganharam força depois. Fair Game é bem realizado e nos convence de que seus autores entendem do riscado, a espionagem americana. Livra a cara da CIA, apresentada como uma instituição técnica e isenta, cheia de esforçados profissionais. A maldade seria da cúpula, submissa aos tubarões políticos. Sabemos que não é bem assim. A CIA é o que há de pior no mundo, pois dissemina a guerra por onde o império manda e dentro dela não há inocentes. Mas aqui serve para mostrar que a informação estava correta e foi manipulada, desvirtuada em função do interesse maior, que era fazer a guerra.

Fazia algum tempo que não via nem comentava um filme. Gostei desse. Dirigido por Doug Liman e escrito por Jez e John-Henry Butterworth.


RETORNO - Imagem desta edição: Naomi Watts e Sean Penn em Fair Game - o casamento e a verdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário