11 de novembro de 2011

DOÇURA PLENA


Nei Duclós


Te abandonas no chão
como o outono em vão
pisa a folha em branco
árvore da memória que solta
a flor depois da hora
e não atinas até que o acervo
te flagra em comunhão
com o tempo jogado fora

Capto o cantochão
que o instante implora,
sou feito de choro quando vejo
o quanto perco sem saber
o que devora tua atenção.
Demora a acontecer
o sonho partido que o coração
então recolhe

Não faz sentido trovar o som
desse arisco olhar sobre teu
gesto aberto em brechas
onde entram insetos
produzidos no exercício
compulsivo do poema.
A não ser que eu diga algo
como doçura plena

São inúteis rimas da canção
que deixo de fazer
por não haver mais esperança
É tardia a praia onde o acaso
encontra a chance.
Fica a imagem sem perdão
por doer de tão bonita
em que és deusa e eu apenas grito


RETORNO – Imagem desta edição: Moça com livro, de Almeida Junior

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