6 de dezembro de 2011

INTENSA



Nei Duclós


Por hábito adquirido em pouco tempo, volto ao aceno sem esperança. Mas nunca é sofrimento a doçura desta espera, piegas mas intensa

Não consigo deixar de compartilhar o que sinto, mas te preservo, para que não identifiquem numa pessoa o que parece brotar sem compromisso

Espero que não te magoes pelo que digo e parece bruto. Pensava em outra coisa. Jamais me refiro a você, doçura, quando aponto tempestades

Amor que brilha sem que me diga nada, faça do teu silêncio a minha morada

Estás acostumada aos meus exageros. És abrigo do meu vento, barca prudente. Guardas meu impulso em teu seio

Quis repetir, mas é proibido. Só temos uma chance em cada vez. Por isso meus intervalos de silêncio são o eco infinito do que digo em teu ouvido

Por isso parece haver tanto silêncio. Mas eu digo te amo em todos os intervalos

Fomos cuidar das nossas vidas. E nunca mais mencionei teu nome. Também me calei sobre essa dor. Não pega bem confessar o amor perdido

Esqueci que preciso mostrar como sou imune a tudo e vibro sobre o alto da montanha. Esquecerei sempre, minha planície

Poesia é perda de tempo e não pode atrapalhar o expediente. Por isso pare com os suspiros e cumpra o compromisso. Minha gazela

Precisamos fazer uma reunião sobre a próxima safra. Eu com meus medos e você com sua boca borrada de batom às três da tarde

Ela foi fria e me jogou no limbo quando enfim nos encontramos. Acho que foi meu jeito aéreo de ser. Não aterrisa, foi o que pensou. Depois não decola

Fugi quando fui perseguido. Me joguei no rio que fica ao pé da cordilheira. Lá encontrei o mundo perdido: tesão por ti e poesia

Tudo bem, disse ela. Foi quando renasci. Até a próxima vez. Até lá, morro no adeus


RETORNO – Imagem desta edição: Susan Hayward

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