1 de março de 2015

SUITS: SOMOS CÚMPLICES



Nei Duclós

Na série Suits, sobre advogados de Manhattan, o cliente é o espectador. É você que eles precisam enrolar com os expedientes não da lei, mas do roteiro. A Justiça é irrelevante quando juízes devem favores a advogados que usam ternos de 25 mil dólares e as indenizações podem chegar a centenas de milhões. Como tudo precisa ser muito rápido para sugerir que há competência e agilidade num sistema complicado, elege-se um protagonista que nunca falha e seu associado, um autista que fotografa na mente tudo o que vê e lê e jamais esquece. Fica fácil assim pesquisar os podres das vítimas e enfrentar vilões cada vez mais instrumentados que tentam derrubar a dupla.

O espectador é a vítima. Ele é acusado de desconhecer como funciona o esquema e precisa testemunhar a favor do que vê, sob pena de pagar mico. Não há defesa para quem segue a narrativa . Somos apenas coadjuvantes condenados a prisão mental do esquema . Os protagonistas no divertem com seus diálogos rápidos que fingem ler mentes alheias e respostas antes das perguntas, sacadas do bolso do colete em situações inverossímeis. O cenário são os vidros dos edifícios da Grande Maçã, a imagem do capital predador e vitorioso e Suits finge que revela seus bastidores. Para isso estabelece um vínculo de confiança entre advogado (falso, já que são atores interpretando um script) e cliente (nós).

O jovem associado é um falso advogado que consegue furar o bloqueio de uma mega empresa poderosa em descobrir segredos alheios mas é incapaz de checar se o diploma do rapaz é falso e se algum colega de classe se lembra dele. É contratado depois de ser flagrado numa transação de drogas, o que é inverossímel, pois como um super advogado iria correr o risco de contratar um drogado sem diploma? Estaria perdido por todos os lados.

Mas o truque é criar conflitos para tornar o processo interessante. O crime não é esse tipo de buraco negro do argumento, mas a ideia de que nos deixamos enganar pela autoestima em ação. Querem talvez que o espectador se identifique com a genialidade das situações e se torne um cúmplice.  Foram quatro temporadas bem sucedidas e a quinta está chegando, tudo pela Netflix, que coloca os episódios na íntegra, sem propaganda para atrapalhar. O troço vicia e você se pega andando na imaginação com ternos caros dizendo coisas decisivas sobre leis e alta grana. Pensamos ser os juízes dessa ação bandida mas somos apenas suas vítimas.

Tremenda série.  Começou em 2011. Criada por  Aaron Korsh, com Gabriel Macht, Patrick J. Adams, Meghan Markl, entre outros.  Gabriel e Patrick são ótimos mas quem detona mesmo é Meghan no papel de Rachel (e na foto). Elenco poderoso.

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