Nei Duclós
Na série Suits, sobre advogados de Manhattan,
o cliente é o espectador. É você que eles precisam enrolar com os expedientes
não da lei, mas do roteiro. A Justiça é irrelevante quando juízes devem favores
a advogados que usam ternos de 25 mil dólares e as indenizações podem chegar a
centenas de milhões. Como tudo precisa ser muito rápido para sugerir que há
competência e agilidade num sistema complicado, elege-se um protagonista que
nunca falha e seu associado, um autista que fotografa na mente tudo o que vê e
lê e jamais esquece. Fica fácil assim pesquisar os podres das vítimas e
enfrentar vilões cada vez mais instrumentados que tentam derrubar a dupla.
O espectador
é a vítima. Ele é acusado de desconhecer como funciona o esquema e precisa
testemunhar a favor do que vê, sob pena de pagar mico. Não há defesa para quem
segue a narrativa . Somos apenas coadjuvantes condenados a prisão mental do
esquema . Os protagonistas no divertem com seus diálogos rápidos que fingem ler
mentes alheias e respostas antes das perguntas, sacadas do bolso do colete em
situações inverossímeis. O cenário são os vidros dos edifícios da Grande Maçã,
a imagem do capital predador e vitorioso e Suits finge que revela seus
bastidores. Para isso estabelece um vínculo de confiança entre advogado (falso,
já que são atores interpretando um script) e cliente (nós).
O jovem
associado é um falso advogado que consegue furar o bloqueio de uma mega empresa
poderosa em descobrir segredos alheios mas é incapaz de checar se o diploma do
rapaz é falso e se algum colega de classe se lembra dele. É contratado depois
de ser flagrado numa transação de drogas, o que é inverossímel, pois como um
super advogado iria correr o risco de contratar um drogado sem diploma? Estaria
perdido por todos os lados.
Mas o truque
é criar conflitos para tornar o processo interessante. O crime não é esse tipo
de buraco negro do argumento, mas a ideia de que nos deixamos enganar pela autoestima
em ação. Querem talvez que o espectador se identifique com a genialidade das situações
e se torne um cúmplice. Foram quatro temporadas
bem sucedidas e a quinta está chegando, tudo pela Netflix, que coloca os
episódios na íntegra, sem propaganda para atrapalhar. O troço vicia e você se
pega andando na imaginação com ternos caros dizendo coisas decisivas sobre leis
e alta grana. Pensamos ser os juízes dessa ação bandida mas somos apenas suas
vítimas.
Tremenda
série. Começou em 2011. Criada por Aaron Korsh, com Gabriel Macht, Patrick J.
Adams, Meghan Markl, entre outros. Gabriel e Patrick são ótimos mas quem detona
mesmo é Meghan no papel de Rachel (e na foto). Elenco poderoso.
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