Nei Duclós
Perdi a razão. A encontrei bebendo.
A Lua é um aviso de permanência. E de beleza gerada pela
eternidade.
Não aceitas provocação, muralha de perdição.
Só a memória abriga este amor perdido.
Elas pousam no poema e depois se mandam. Levam o pólen que
estava faltando. Abandonam a fábrica movida a vento.
Busco nos arquivos a palavra que usei e não está mais
comigo. Não acho, pois te dei, musa distraída.
Nunca celebras o sentimento. Não precisa. Já és feita de
puro amor.
Você não me deixa partir, disse ela. Faz sempre alguma coisa
adorável para eu ficar.
Teu amor é uma joia
que pretendo guardar, disse ele. Numa caixa sem valor, meu coração, que te
pertence, mesmo que eu custe a acreditar.
INTENSOS
Somos intensos
no imaginário tecido por dentro
e que assoma em rostos
que se complementam
DESMANCHE
Desmancho e ninguém se dá conta.
A não ser você
a mil metros de distância.
MIRAGEM
Pisavas no céu
com teus barcos azuis.
Mas já não estavas lá,
apenas teu olhar.
ZUMBIDOS
Amor se acha quando se esconde.
Quando ninguém procura.
Quando se sabe que o foco é outro
e ficar em cima só torna piegas
o que por natureza transcende.
Amor é inseto invisível.
Só a flor conhece seus caminhos.
Corola, pétala, espinhos
zumbidos que não se escutam
a não ser em teu espírito
LUVA
Quando amei, devia ter amado
de verdade, e não o que sonhei
imaginei sentir o que de fato
era folha ao vento e chuvarada
Quando te deixei devia ter voltado
no mesmo instante do duro adeus
pensei que era o destino ir embora
e era só a solidão, que cultivei
Devia aprender com tuas curvas
teus olhos de seda, tua pele fria
tua boca de jasmim, única lua
Pensei ser eterno, como os deuses
mas sempre fui mortal, como granito
minha armadura perde para tua luva
RETORNO - Imagem desta edição: obra de John William Waterhouse
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