Nei Duclós
Poema não se esparrama, não monta a cavalo na palavra. Poema
é o que dizes sem pensar em outra coisa. Na lata, como pergunta de criança
Choro ou riso não fazem parte do poema, que está
circunscrita em sua arena, o verbo em rodízio como bicho de carrossel.
Poema é pedra, não suspiro. É barro, sem o sopro da alma
imortal. Datado, morre na praia da tua falta de cuidados com a linguagem. É o
tempo, indiferente ao próprio destino. Faça um poema. O resto jogue fora.
Lindo é o teu olhar, não o poema. Bicho assustado, ele foge
pelo matagal. Perdes de vista seu rosnado.
O poeta é o espantalho no milharal. Alvo de atiradores de
estrada. Veste a roupa dos mendigos. Os corvos, palavras, devoram seu chapéu de
palha.
Não dê esperança ao poeta. Ele rola pelas ruas varridas de
sentimento. Vai pegar um navio que já se foi, levando seu grande amor.
O corpo atrapalha o poeta, feito de lãs ordinárias. Ele se
dá bem nas estradas vicinais, onde ainda passam carruagens.
Peça para o poeta voltar. A tormenta passou, levando de
roldão as violetas que o esperavam na parada rústica de um ermo qualquer.
Não te amo, diz o poeta, porque essa é a única frase que lhe
resta. Todas as outras foram sequestradas pelas pessoas apaixonadas.
Se quiseres paz, não convoque o poema. Ele te tira da cama,
como os aventureiros que carregam continentes no bolso.
Fui dormir, disse o poema. Vê se me acorda quando o dia
sonhar com as estrelas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário