29 de março de 2012

LUAU


Nei Duclós

Antes de dormir ela me beija, com seu esplendor sem conta. É mais do que sorte, esse gesto com cheiro.

Cantei perto dos teus joelhos no luau da praia gelada. Meu rosto estava próximo demais do que jamais esqueço.

Quero que adivinhes, decifres a charada o quanto antes. Entender é a véspera da cama.

É por dentro que acontece o evento. Lá onde cede a barreira.

Lisinha não é lisura, traiçoeira. Mas não me surpreendes. Os nós que tenho mal acostumam tua imprudência.

Melhor aquietar-se, aventureira. Aninhe-se no lençol do poema.

Ficaste só alguns minutos. Foi como luz de candeeiro que treme na noite fria.

Perdeste o ar no alto mar da poesia. Precisei fazer respiração boca a boca, letra e sílaba. Aos poucos, naufragada, voltaste à vida.

Não entregas o que te preserva. O resto, só com senha ultra-secreta.


MEIA NOITE

Não dê meia volta só porque vai chegar a meia noite.

Meia noite é quando o escuro põe os sapatos.

Meia noite é quando a noite já cumpriu meio expediente.


FORTUNA

Não é falta de vento. Há tempos sopro para que venhas.

Não é falta de beijo. Acumulei uma fortuna nos lábios.

Não é falta de aceno. Em todos os cais tremulei o lenço

Não é falta de tempo. Amor é a eternidade do encontro.

Não é falta de esforço. Usei todos os recursos da língua portuguesa.


RETORNO – Imagem desta edição: Sandra Bullock.

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