22 de março de 2012

COBERTA


Nei Duclós

Você ainda se emociona com o que eu digo, mas não comigo. Sou mídia, transmito dados do infinito.

Passei da hora, já estás dormindo. Só me resta compartilhar a coberta sobre ti, do outono ainda no início.

E agora o que eu faço contigo, encrenca?

Quando deixamos secar, somos profissionais.

Chuva gelada e continuas ausente. Olho pela janela e te comparo à estrela que não aparece.

Aguardo o beijo. Não porque tenhas prometido, mas porque adivinho.

Quando acordares, o poema estará alto de tanta vontade.

Não meço o acervo produzido. Não acumulo sínteses. Disperso tudo para que o vento distribua no cosmo frio, e assim transforme o dia.

O amor fez as malas. Vou extraviá-las.

Escrevo o que teu coração dita.

Não estou falando contigo, ela disse. Não importa, falei. Se encaixa.

Poesia pela manhã é ainda lençol e gemido. Não está na hora do batente, adormecida?

A toda hora te espio. Me prenderás por assédio? Mas sou invisível. Meu olhar é um cofre onde beijo teus cílios.

Queixa-se da intensidade de eventos exclusivamente femininos. Quem manda ser tão mulher, aviso.

Vi você encolhida num canto. Estava tremendo. Te peguei nos braços e acariciei teu rosto. Imediatamente levantaste voo.

Você me trouxe um cheiro meio indefinível. Só sei que é de mulher que está querendo.

Não se emocione, passe um verniz no sentimento. Deixe tudo pronto para quando vier o tempo. Então verás como foi tudo em vão, meu sonho.

Expulsei todo mundo de perto. Queria um momento só contigo. Concedi permissão apenas para o vento.

Perdi um soneto, falei para o anjo. Deixaste cair quando ela pediu teu telefone, disse ele.

O clima fechou a cara, queixou-se ela. Nunca mais a praia. Só depois que o Outono se instalar e acender o fogo, avisei.


RETORNO – Imagem desta edição: Laetitia Casta.

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