7 de maio de 2012

TEMPO INTEIRO


Nei Duclós

Poeta o tempo inteiro, cada minuto de Lua, cada porção do teu cheiro.

Diga que sim. É a única forma de haver poesia.

Visitei tua galeria. Sempre te achei uma pintura.

Melhor não mexer com as curvas. Elas se encrespam quando você não alisa.

Deixei em meu lugar a poesia. É o melhor de mim, amiga.

Desististe, enfim. Cada barco segue seu rumo. Eu prefiro assim. Consigo ser teu em minha fantasia.

Sentiste medo, é natural. Te arrependeste, neblina. Sou a gota de chuva em tua língua.

Levaste os versos que guardei para o inverno. Agora sentirei frio, sem verbo.

Procurei nos pássaros o assobio noturno. O que te atrai em ruas encardidas.

Somos poucos, em rodízio. Amargamos a solidão do clima. Uma tempestade de neve se aproxima. Vista minha pele, tímida.

Pode ir agora, já a dissolvi a banda. Vê se não desmorona, meu encanto.

Repartimos momentos. Todos para ti, eu fico só te olhando.

Não te chamo de querida, não somos íntimos. Mas de musa, de outra vida.

Não posso deixar de dizer, mesmo que queira. Temo esquecer o que te beija.

Abordo tuas personagens. Mas quero tocar a intenção que faz a arte.

Não esqueça. Hoje é dia de pegar o que desejas. Esse último eu solto na beira.

Jogo na primeira base. Não para fazer pontos, mas porque ali te abres.

Se a fonte da tua beleza molhar meu beijo, tudo o que eu disser será eterno.

Não podes escapar, clássica. Sou o historiador da tua arte.

Invente o espaço onde me queiras. Que lá já estou, divina.

Teu rosto é molde de deusas. O Olimpo está cheio de tuas curvas.

Habito o sonho em que estamos juntos. Não se afaste nem por um minuto.

Pena não sermos as criaturas que imaginamos. Não outra pessoa, mas contigo pendurada no meu ombro.

Te recolheste, me deixando na sombra. Mas tenho a memória da tua imagem no espelho. Lá mora a luz, amante.

Saciada, repousas. É quanto te atinjo ao meio


RESSACA

Sobreviver foi o erro. Deveria estar preso no século eterno. Mas cruzei o umbral e eis-me no ermo, a solidão do futuro.

Sobreviventes não merecem homenagens. Principalmente se estiver pronto para o bote do poema.

Não me lembre, não sou poeta póstumo. Nasço amanhã, quando estiveres a postos.

Ressaca da Lua. Balada do sábado foi super. Hoje ela está anônima no céu. Pediu auxílio às nuvens.


RETORNO – Imagem desta edição:  Marylin Monroe.