13 de maio de 2012

ABSINTO


Nei Duclós

A Lua vista pela estrela
exagera na grandeza de ser bela.
Olho do céu que enxerga
o esplendor feminino na terra.
Mútua sintonia feita de encomenda.

O véu espesso oculta a redoma,
que entra em zona obscura,
onde flutua o reflexo suado
emitido pelo íntimo fogo.
Acenas para mim com tua prenda

Como te querer se estás no limbo?
fuga de fêmea traída na textura
me confirmo amante sem motivo
a não ser a divindade que ostentas
enquanto, mortal, não sobrevivo

Não rima essa sonora alegoria
que invento para tentar a tua
conspiração de brumas
Mas mesmo assim respiras próxima
demais com tua costura

Cais enfim despregada de tudo
fazendo estrago no absinto
salpicas de sal meu rosto bruto
És tudo o que me cruza
em sabedoria e cinza

Rosto em camadas de tempo,
leveza quase de ausente,
concentração de surpresas,
expressão feita para dentro,
que atinge o olhar em cheio.

Vivo avesso à luz soberba
rainha de muitas fases
cadentes e repartidas
Fuço o luxo do teu medo
Reparo a flor impossível


RETORNO – Imagem desta edição:: Juliana Biancato e mais uma de suas magníficas personagens, que emprestam ar para a ficção da poesia.