30 de maio de 2012

PERFEITO


Nei Duclós

O verso mais feliz é aquele que te deslumbra.

Queres que eu sussurre o que o meu coração grita?

O rosto perfeito surge por descuido, quando Deus se debruça sobre pincéis que se misturam. Ao voltar os olhos para a tela, lá está o assombro providenciado pelo implicante Acaso.

Admita que me ama. Só depois conversamos.

Tens medo? Eu estou em pânico. Vamos deixar que o tempo se encarregue de produzir remorso.

Voltamos sempre ao mesmo ponto. Nos batendo em frente ao espelho. Ultrapassamos a fase do choro. Agora dói por consentimento.

Já estou no laço. O que impressiona é que não baixas a guarda. Como se fosse me perder, tirana.

Não nos entendemos. Por isso não descambe. Não vá deixar à mostra um milimetro de renda.

Isso cansa, disse a retirante. Prefiro ao vivo, senão é poeira. Vejo encontros mudos, disse o saltimbanco. E cartas que são bálsamo no deserto.

De manhã à noite, poema. Assim te alimento, dispersa. Te amarro na corda do verso.

Há uma grossa camada sobre o nosso espanto. Nos debatemos e só as aves escutam os gritos que emitimos por gosto.

As flores fizeram greve. O desamor não se deu conta. Continuou andando no deserto dos canteiros.

Hora de dar um break. Pense em algo que te encante.

É um arrepio por dentro, que não dá bandeira. A não ser quando torces a cabeça assim meio sem querer e vejo de longe que estás em ponto de bala.

No que ela está pensando, a musa de belíssimos ombros?


RETORNO – Imagem desta edição: Laetitia Casta.