10 de maio de 2012

VINTE VERSOS DE UM QUASE BEIJO





Nei Duclós

Beijo apenas desenhado. Cardápio do lábio dando um toque.
Nem chega a ser promessa, antes é um breque
Sem nenhum arrependimento, apenas defasagem
entre a vontade e a noção de que é viagem
o que parecia ser um carro, mas era apenas um reboque
a intenção que não desiste mas fica pelo meio

Diante do pássaro o voo se dissolve
e ficamos presos entre o abismo e a beira
estafetas de um correio indefinido, a mão e o seio
e a fantasia tentando se esconder , mas já é tarde

O fato é que espichaste os lábios nesse instante
em que nos vimos enfim ao vivo e a cores
e foi tão rútilo o meu olhar, talvez até meu cheiro
tenha chegado a ti e por isso te entregaste ao sonho

Mas achaste cedo demais, mal nos conhecemos
e eu te digo, eleita, agora é o que vivemos
Solte logo esse gesto cultivado no teu ermo
que eu choverei contigo, doce indecisa
que tomou a dianteira e me trouxe para perto
do que eu tinha vontade mas não pagava o preço


 RETORNO - Imagem desta edição: Germana Zanettini.