9 de janeiro de 2012

ENDEREÇO


Nei Duclós

Teu endereço é meu nome. Tens a chave

Quando vais embora, te cito de memória. Quando voltas, te decoro

Rosa intacta na praia. Promessa imóvel, ao som das gaivotas. Quem te jogou, quem te colhe?

“Amor não dá camisa a ninguém”, me disseram. “Tente a indiferença. Pega bem”. Não dei a mínima

Sentamos para tomar um café. Ela sumiu com o açúcar. Quando procurei, fez cara de paisagem. Bebe, disse. Sinta o gosto da tua ausência

Não pergunte nada. Ela te dirá se quiser. E responda tudo. Você quer

Vire a página. Estou na primeira linha

Toque, que eu reverbero. Eco do choque

Amor no final do estoque. É quando berro

Não era amor, era truque. Me serve. Moro na cartola

Agora, disse ela. Mas eu não estava preparado. Espera, falei. Mas ela já tinha ido embora

O poeta é o animal que cruza todas as fronteiras. Quem quiser pegá-lo ficará no máximo com o casaco

Só você não me espera. Vai deitar sem me dar bola. Armo sonhos no teto do teu sono. Quando viras para o lado é quando surge uma nova estrela

Abri a janela para a Lua. Eras tu, no céu,pingando nuvens

Fomos deitar. Eu, numa pauta de rascunhos. Você, num sinfonia

Não me enquadre. Faça isso com suas águas marinhas

Não trace meu rumo. Obedeço apenas à constelação de Órion. Ou algo próximo em espiral

Todo homem tem medo do amor no ultimato. Toda máscara cai quando não há mais chance de a fantasia imperar sobre o comando do alvo

Ela saltou no quintal me dando um susto. Depois voou, na penumbra formada pela Lua atrás da nuvem. Um clarão foi o rastro da estrela guia

Telepatia não é meu forte. Me escreva



RETORNO – Imagem desta edição: Natalie Portman.

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