14 de fevereiro de 2009

O QUE É TEORIA DA CONSPIRAÇÃO?

Teoria da conspiração é a explicação óbvia para eventos sinistros. Significa: esse acontecimento, fruto evidente de brutalidades explícitas, e que nem precisa de comprovação porque está na cara, não passa de besteira, paranóia, pura teoria. O certo seria um outro motivo, pretensamente mais elaborado, profundo e que está fora do alcance do conhecimento dos mortais comuns. Esse deslocamento das evidências para o limbo, a escura caverna ignota de uma aparente burrice coletiva, é o instrumento mais poderoso da impunidade. Os interesses contrariados pelos fatos criminosos evidentes sempre falam em teoria da conspiração quando são flagrados no pulo. Vamos a alguns exemplos.

ALEMÃES NÃO BOMBARDEARAM NOSSOS NAVIOS – É óbvio, evidente, que os alemães jamais cometeriam a besteira de bombardear um monte de navios mercantes brasileiros na véspera de uma decisão importante, que seria tomada pelo governo Vargas, ou seja, a entrada do Brasil na II Grande Guerra. Mas falar nisso é teoria da conspiração. Agora vejam isto: John Reed, no seu livro “Eu vi um mundo novo nascer”, lançamento da Boitempo, fala que os Estados Unidos entraram na I Guerra porque seus navios foram bombardeados pelos alemães. Ou seja, o expediente maroto já tinha sido usado antes. Está na cara. Quando a verdade enfim vier à tona, ninguém mais vai se importar com isso.

Falei para amigo meu dessa evidência e ele jurou que os alemães estavam furiosos com a quantidade de insumos de guerra que o Brasil exportava para os Aliados via navios mercantes. Imagino que nenhum estrategista iria sucumbir à tentação de destruir algumas embarcações quando poderia contar com o apoio do maior país da América do Sul. O troço não cola. Não que Vargas fosse fechar com os alemães. Mas é óbvio que os nazistas não eram esse monte de idiotia que pintam.

OS EUA COMETERAM O 11 DE SETEMBRO - Um autor francês provou que isso é verdade e um documentário pesquisou à exaustão a sacanagem que os próprios americanos fizeram contra seu povo, para aumentar seu poder no mundo e dentro do próprio território, por meio da ditadura que enfim foi implantada. Mas é forte demais, bruto demais, óbvio demais para ser levado em consideração. Então todos fingem que um cara com problemas renais, escondido numa caverna, tenha elaborado um plano maquiavélico, ultra tecnológico, com precisão absoluta, envolvendo dezenas de pessoas sem que ninguém notasse, e que esse indigente realmente tenha destruído o símbolo da hegemonia imperial apenas dando ordens lá do meio do deserto.

Claro, não foi a realização de testes comprovadamente feitos anteriormente com pilotos automáticos e que sugeriam o atentado que enfim se realizou. Os americanos são os únicos capazes de cometer esse tipo de barbaridade. Pelos recursos, pela capacidade militar e técnica e também pela enorme, grandiosa cara de pau e crueldade, já que carbonizaram 400 mil civis desarmados do Japão no maior atentado terrorista da História e tudo ficou por isso mesmo.

OS PRESIDENTES ASSASSINADOS - O Brasil matou sucessivos presidentes da República: João Goulart, JK, Castelo Branco. Mas isso é teoria da conspiração. Jango, vítima de uma injeção que provocou infarto e não deixou pistas, porque se aproximava a abertura política e ele não poderia voltar porque a ditadura não permitiria. A mesma coisa com JK: o mal explicado acidente na rodovia, que até hoje encuca os pesquisadores, impediu que um estadista pré-64 reassumisse o poder. Não que JK fosse grande coisa, mas perto do que tínhamos desde 64 e o que tivemos depois, é um fenômeno. E poderia, na sua volta, fazer um governo bom. E Castelo Branco, que caiu com um aviãozinho no Ceará, era arquivo vivo.

Mas não fale dessas coisas. Os entendidos vão rir de você. Vão dar aquele sorrisinho cool, que entorta levemente a boca, enquanto suspiram fundo e fazem cara de paisagem. Toda pessoa que fala em teoria da conspiração diante de fatos evidentes faz cara de paisagem.

Um dos grandes aliados da teoria da conspiração são os loucos de dar um nó, os paranóicos mesmo, que inventam evidências quando algo precisa de pesquisa séria. Esses episódios acabam fortalecendo a teoria da conspiração. Viu só? Isso é pura paranóia, deixe de lado. E deixamos. Até que outro fato sinistro, óbvio, exploda na cara de todo mundo e os apresentadores façam aquela expressão de que tudo irá ser investigado, duela a quién duela, quando bastava prender os meliantes que se locupletam com os crimes.

RETORNO - Imagem desta edição: foto da reportagem de John Reed no front russo na I Grande Guerra. Reed, o maior repórter do mundo, americano e socialista, conta como viajou no meio de mil perigos como se fosse até a esquina. E diz como os governos jogaram as massas na carnificina sem que elas soubessem os motivos. Reed não conhecia a teoria da conspiração: viu tudo com clareza e não escondia nada. Além de tudo, nosso herói escrevia como ninguém. Feche o punho, soque o ar e diga comigo, bem alto: Reed! Reed! Reed! Reed!

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