6 de outubro de 2012

GESTO ARRISCADO



Nei Duclós
 

Passei o dia meio de lado. Era tua ausência que pesava.

Não sei o que dizer quando me desarmas. Minha saída é o gesto arriscado de um achego.

Estocas meu sentimento para ter o que viver mais tarde, quando a sombra do cosmo cobrir teu quarto. Estarei só, como sempre, com o telefone interno ligado.

És tão minha que virou encrenca. O que vamos dizer quando surgirmos a pleno, de coração escancarado no sereno?

Não saí a tempo pois perdi a brisa da manhã. Agora aguardo teu sopro, criatura da noite.

Lembro de ti, a mais bela da planície. Quanto desperdício, minha fada. Dizes amor e me enredas.

O que dizes não é sincero. É preciso ser o poema antes do verbo. Abandonar o pântano da verve, se transformar na lama do verso. Falar com todas as águas que a partir de ti se manifestam.

Regaste com fogo a semente que eu trouxe da fonte. Era de flor, mas brotará uma folhagem de lava.

Depois te arrependes e me tratas com teu lambuzar de beijo. Mas fiquei seco e custo a despertar o que me faz inteiro.

Foi difícil recolher os restos do amor destruído para compor um verso. Por isso não repare o jeito do poema recém saído da fisioterapia.

Te provoco porque sinto tua vibração chegando perto. É uma espécie de celebração espontânea

Me acusas de ficção permanente, como se o amor fosse invenção minha. É destino, sua linda indiferente.

O gênio sabe o que desconhece

O tempo é um túnel circular cheio de portas. Ele vai tocando o trinco: sexta-feira,segunda. Avança em espiral de outubros,varanda de si mesmo


RETORNO - Imagem desta edição: Marilyn Monroe.