30 de dezembro de 2009

MIDIA BLOG


Quando entrei oficialmente para a profissão, em 1970, depois de ter passado pela peneira de focas promovida pela Folha da Tarde, dirigida pelo Valter Galvani, freqüentávamos o prédio da Caldas Junior, empresa que publicava, além da FT, o decano Correio do Povo, e que era uma referência física importante em Porto Alegre. Hoje faz parte das construções históricas, mas na época era uma espécie de Meca para onde se dirigiam não apenas os jornalistas gaúchos, mas os estudantes, os políticos e toda a fauna humana existente.


A Caldas Junior era um portento, imbatível, líder em tudo,até mesmo no rádio, já que, como escreveu Rubem Mauro Machado no seu romance A Idade da Paixão, “o som da Guaíba era, para mim, o som de Porto Alegre”. Sua gráfica a chumbo foi um impacto quando a conheci dois anos antes, em 1968, recém chegado na Ufrgs. Os pagamentos eram feitos em cash, num guichê idêntico aos que víamos em filmes antigos de Hollywood, até mesmo de faroeste. Vinha o holerith, o salário, com todos os trocos e centavos. Reclamávamos que era pouco. Mal sabíamos que escrever como profissão remunerada um dia poderia desaparecer.

Naquele tempo escrever era um esforço muscular. Máquinas pesadas, carrilhões barulhentos, laudas grossas de papel, cestos cheios de leads estropiados, mesas cobertas de tudo que é tralha, telefones pretos tilintando sem parar, cafezinho e fumaça, gritos e xingamentos, pressão de todos os lados. Hoje, com os recursos digitais, você pode derrubar um governo ou tomar o Suriname pelo twitter entre dois goles de água gelada. Facilitou geral e já existem bons exemplos que, com as ferramentas disponíveis, tentam lembrar os veículos que por mais de um século foram a cara do mundo em constante transformação e guerra.

Os blogs são hoje exercícios importantes de comunicação, de grande diversidade, concorrendo até com as versões digitais dos jornalões (que não passam de superblogs, cheios de mini-blogs dentro). Afora os blogs que se consolidaram como padrão do gênero, como o do Noblat e o do Nassif, temos aqui em Florianópolis excelentes produtos desta mídia, que não é mais nova, mas ainda tem muito caminho a percorrer. Destaco alguns, notórios.

Meu amigo Sergio Rubim, jornalista da pesada, faz seu Cangablog uma referência de notícias importantes para a região e o leitor brasileiro, destacando a política local, as barbeiragens políticas nacionais, sem abrir mão de um perfil autoral, pois sempre há um texto saboroso sobre suas andanças, ambiente doméstico e relações familiares e de amizade. Há o terremoto Tijoladas de Mosquito, várias vezes censurado, que chega a atingir cinco mil visitas diárias, em que o responsável Amilton Alexandre (se recuperando de um enfarto) abre a metralhadora giratória contra os desmandos locais, sem nenhuma auto-censura. Há ainda no blog o reforço da TV Mosquito, que são inserções no You Tube.

Destaco também o Coluna Extra, do jornalista Alexandre Gonçalves, meu ex-colega na editora Empreendedor, sempre na vanguarda das informações sobre Comunicação. E há blogs pessoais com um bom acervo de posts sobre vários assuntos como o de Dauro Veras, ou ainda o Balaio de Siri, da jornalista Elaine Borges, que diz bastante sobre a ilha e seus encantos e problemas. E, last but not least, o excelente Deolhonacapital, http://www.deolhonacapital.com.br/ do jornalista Cesar Valente (foto acima), que conheci ainda nos anos 70 na redação do jornal O Estado, de Florianópolis, e que recebeu recentemente reforço dos meus amigos Mario Medaglia e Emanuel Medeiros Vieira. Pois Deolhonacapital é o blog mais bem resolvido em termos de mídia blog e fazia parte de um pacote de serviços para o Diarinho, de Itajaí.

Um desencontro entre o editor e a empresa acabou vitimando Deolhonacapital, referência de leitura, um pacote forte de concentração de mídias. Dezenas de comentários lamentam o fim do blog. É uma pena, mas todos acreditam que o bom Cesar Valente vai voltar em plena forma, em outro veículo que irá certamente criar. É o que esperamos. Mídia blog é atualmente a grande força da imprensa. Não tem perigo de piorar.

RETORNO - Imagem de hoje: Cesar Valente. Tirei daqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário