17 de outubro de 2009

TEM BOBAGEM DEMAIS NO AR


O noticiário é uma sucessão de asneiras. O balão que foi capturado e não tinha menino dentro. O velho que reencontrou seu grande amor depois de 30 anos. O trecho do centro que teve o transito desviado. As declarações do Rubinho Barichello. A franqueza de Felipe Massa. Os três pênaltis perdidos pela seleção sub-20. A brabeza de Dunga e Maradona. A nova vinheta da Fórmula 1. A cena em que Didi sobe no gigante infeliz do basquete, que morreu, é considerada “clássica”. Xuxa canta (?) para as crianças angolanas, que sacodem os bracinhos, judiação.

Depois tem as perdas de tempo nas estradas em fúria. A lenga-lenga de Brasília, que deveria ser fechada. As crueldades como levar criança de camburão para fazer BO. Os incêndios sucessivos, principalmente em favelas. Os assassinatos em série, como se vida fosse vídeo-game. E as frases repetidas. Como a que nos lembra, a cada milissegundo, o fato de o Brasil já estar classificado para a Copa. Vamos para a África, puxa. Por que não vão cagar pedra?

Os novos desertos são exibidos orgulhosamente como um grande feito do agronegócio nacional. Os estouros do cartão de crédito nada tem a ver com as necessidades básicas, é tudo vaidade desse povinho que não sabe gastar. Bem nutridos maganos cretinos aparecem a toda hora dando conselhos para a cidadania tungada pelos juros escorchantes. O noticiário não tem denúncia, tem denuncismo barato. Não tem defesa do país ou de seus habitantes, tem defesa de interesses corporativos e publicitários. Todos são culpados, menos eles.

Aí o Datena ganha mais um programa. Por que, meu Deus? A Fernanda Lima suspira fundo seu esqueleto dourado e diz que é o maior prazer, viu? Idiotas se colocam atrás de displays de corpos nus e falam das suas trepadas, sob a gargalhada da apresentadora loirosa de cabelos escorridos e aplausos da claque imbecil. De manhã à noite, Didi, Dodô, Xuxu e Micharias. Sabe aquele filme que você tirou na locadora no século passado? Vai passar no Cinema Especial. Sabe aqueles filmes todos sobre como os americanos são fodalhões? Passa todos os dias. Esses dias, a selva peruana era o Brasil e bandidão americano falava para seus subordinados hispano-brasucas como se fossem animaizinhos de estimação.

Minha sucessão de leituras vai bem, o problema é que você não pode o tempo todo só escrever (trabalhar) e ler. É preciso ligar a TV, tirar um filme. Depois de assistir inúmeros clássicos estupendos, me cai nas mãos uma Sandra Bullock quarentona fazendo papel de menininha. Talento desperdiçado em filmecos comerciais. Parece que o grande hit é Intrépidos Bastardos, ou algo assim, mais Quentin Tarantino, daqui a pouco vem mais um Scorsese. Não há perigo de melhorar. Vejo filme razoável polonês do garoto que procura o pai e tem uma irmã que luta por um emprego. Uma cena inteira foi chupada numa novela da Globo. Eles chupam e pronto.

Espíritos bons e criativos perdem tempo com política. O Brasil do tucano-petismo é perda de tempo. Devemos aplicar nosso tempo em coisas mais proveitosas. Começo a ler o diário de guerra de Alfredo Escaragnole de Taunauy. O Conde D´Eu aparece como um homem digno. Achei que era um atrapalhado comandante-em-chefe. Talvez não tenha sido. Quem são essas personalidades históricas que projetam imagens tão conflitantes? Para onde foi o Brasil? O que vale a pena é o amor e a memória. A criação e a coragem. O sonho e o humor.

Voltei a Shakespeare esses dias. Há 400 anos, o gênio. Quando ler te derruba. Mas parece que o Rubinho tem algo a dizer. Vamos ver. Ele torce a boca. Está indo para a Ferrari. Felipe Massa parece que não gosta. Ou gosta? Por que perdemos os pênaltis para Gana? Quanto mistério. Mas nada se compara ao chapéu de campanha do presidente e sua arenga interminável. “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”, como dizia Marco Antonio.

RETORNO - Imagem desta edição: Bobo da Corte.

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