15 de setembro de 2009

OS DONOS DO PODER, HOJE



Eles são caudatários da soberba fidalguia colonial, para a qual "o imperador da China não serviria para criado", como disse L.S. Vilhena, uma testemunha do século 18, citada por Raymundo Faoro em "Existe um pensamento político brasileiro?" Estão em todos os nichos e formam um conjunto de estamentos que se apoderaram da sobrevivência física da população inteira. Vou citá-los representados pelos seus setores de atuação (Na ilustração deste post, imagem do mais recente e brilhante filme de Jean Luc-Godard, "Socialismo", pesquisado por Ida Duclós).

OS DONOS DA ECONOMIA - O faturamento das multinacionais levantam os indices do PIB brasileiro, mas não fazem parte da economia da nação. Não é descontada, nos cálculos, o volume da remessa de lucros ao Exterior. As empresas estrangeiras mandam na economia brasileira e se assenhoraram de todas as fábricas e marcas. Sabe a Sadia? É da Cargill. Sabe a Mundial, grande marca gaúcho de tesouras? Pertence à China. Sabe a China? Comanda o parque industrial brasileiro, do insumo ao produto final, do teclado à renda nordestina. Sabe o parque industrial brasileiro? Não existe mais. Somos o play-gropund dessa canalha.

OS DONOS DA OPOSIÇÃO - A oposição hoje pertence aos tucanos (PSDB) e aos chamados democratas (DEM). Você se insurge contra o PT? É tucano. Se você for trabalhista, socialista ou progressista, então há chances de te levarem no bico e tentarem te anexar, pois o governo petista está sujo e vai precisar de outas forças políticas, que ficaram à margem do butim, para poder acumular os votos que precisa (os outros, eles conseguem sabe-se lá como). Se você bater na bandidagem do poder, será chamado de reacionário. É porque a oposição tem dono.´Pertence à direita, segundo a esperta acusação da pseudo esquerda.

OS DONOS DO COFRE - Os governos federal, estaduais e municipais e os congressistas manejam todas as verbas reais. Esses tem acesso à bufunfa acumulada pelo suor popular. A grana serve para contratar quem eles bem entendem, desviar como bem querem, gastar em cursos internacionais e viagens para ilhas do prazer como bem preferem, acumular nos bancos do jeito que bem lhes aprouver etc. Mientras tanto, o país fica à deriva, com estradas que desmancham na chuva, casas que viram pó, pessoas que morrem em frente às câmaras.

OS DONOS DA DEMOCRACIA - O dono é o Alexandre Garcia, da Globo, que outorgou a democracia para o país e é seu principal guardião. É preciso sempre, de cabeça baixa, escutá-lo quando levanta o dedinho advertindo e admoestando, nos orientando para sermos democratas. No Judiciário, na política e na imprensa existem milhares de donos da democracia, a palavra mais citada desde 1964, quando destruíram a democracia. Por coincidência, como estamos em plena ditadura, todos os dias alguém aponta um acontecimento e pergunta: "Afinal, estamos ou não numa democracia?" A resposta é não.

OS DONOS DA VERDADE - A dona absoluta da verdade é a Sandra Annenberg, da Globo. Morreu Patrick Swayze, de câncer no pâncreas? É porque o pâncreas, um órgão do aparelho digestivo, segundo o apresentador da Globo, se ressente de hábitos como tabaco e gorduras. Imediatamente Sandra aponta com a mão o interlocutor, num gesto de c.q.d, como queríamos demonstrar. Ou seja, é óbvio que nosso bom Patrick, um ator inesquecível que atuou em filmes maravilhosos (nunca excepcionais, mas tocantes), e onde mostrava como era possível amar num mundo de assassinatos, teve culpa por ter morrido. A Sandra demonstrou isso cabalmente. Ela faz parte da plêiade de donos da verdade que em todo lugar, na fila da padaria ou do supermercado, nas escolas e prisões, te colocam contra a parede porque tu, bobalhão, nunca estás com a verdade.

OS DONOS DO BRASIL - São esses caras que foram pegos com as calças na mão, tanto no escândalo do Banestado, aquele de trocentos bilhões desviados na era tucana, quando nos mensalões da vida, e que continuam contratando parentes, tomando todas para fazer discursos apopléticos e mentir. São esses caras que colcoam boi na floresta que eles devastam, que com uma penada destroem ambientes gigantescos e que fazem o jogo dos vizinhos assassinos, os que compram foguetinhos para nos assustar.

Esses donos do Brasil precisam ser apeados do poder e isso só acontecerá quando nos convencermos que não estamos numa democracia, que a volta da ditadura não existe, pois continuamos nela e que temos acervo para propor algo melhor ao país, uma força política mediadora de conflitos, ética e que consolide uma distribuição justa das riquezas. Chamo essa força de trabalhismo. Que não quer se adonar do país, mas sim exercer o poder democrático criando condições para voltarmos a ter soberania e equilíbrio social.

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