12 de janeiro de 2008

SÓ QUERIA ENTENDER


Como o Rio Grande do Sul está parado por falta de investimentos, o governo gaúcho vai gastar 93 milhões em publicidade, sendo que mais de 70% desse total vai para a propaganda do Banrisul. Dá para entender? São 93 milhões, mais de 40 milhões de dólares! Não é uma grana preta, uma bufunfa monumental, que daria para fazer um monte de coisas, ou estou completamente defasado e louco? Parece que o dinheiro servirá para alardear os feitos do governo estadual. Mas que coisa! Por que gastam um ervanário desses para uma coisa volátil que é a publicidade, que não deixa rastros, some junto com os pilas investidos? Nada mais triste do que um anúncio rasgado numa estrada abandonada.

A inflação em dólar voltou, sendo que o feijão aumentou horrores por cento. Mas o presidente aparece na revista Brasileiros sorrindo, e a manchete diz: "De bem com a vida". Ele diz que está bem porque o Brasil vai bem. Vai bem, como, cara pálida, se a inflação em dólar está comendo o que resta dos salários, e logo na sobrevivência, na comida? A carne subiu que é um espanto, claro, precisamos exportar proteína para os países eslavos. O que vai bem no Brasil é a gigolotagem. Nunca ofereceram tantas mulheres gostosas, brasileiras, para o desfile de celebridades que infestam o litoral. Os caras chegam para comer brasileira, está na cara e todo mundo acha o máximo. Venham comer nossas beldades, elas dão para todo mundo, basta deixar um pouco do seu papel pintado por aqui.

Numa viagem corriqueira de ônibus soube que a população no coletivo comentou em peso a festa de putaria e drogas que são os hábitos da alta temporada. O povo vê, o povo sabe. Claro, o povo serve de motorista, faxineira, cozinheira pra essa tropa. Atraem até príncipes e megastars, que chegam insuflados pela publicidade, pelas mentiras sobre estabilidade econômica e progresso social. Nossa paisagem e a humanidade disponível dentro dela estão à venda. Enquanto isso, continuam matando turistas estrangeiros, mas isso é só um detalhe. O negócio é rosetar.

Soube que Robin Williams falou que todo brasileiro é dopado. Num programa de televisão, imitou o andar de um macaco dizendo que era de um brasileiro. Isso é o que somos para essa canalha. Williams foi considerado um dos piores atores de 2007 fazendo o papel de padre que diz barbaridades para os noivos. Fez fama como o professor gay de alunos ricos em Sociedade dos Poetas Mortos. Acharam aquilo o máximo. Achei pura frescuragem, emoção prêt-à-porter, feita sob medida, de encomenda.

Como estamos em 2008, é hora de achar que 1968 não terminou, o sonho não acabou, Raul Seixas não morreu, Elvis vive e o Yoko Ono é mesmo uma farsa. Haja. O que nos espera em 2068? Mais documentários de que 1968 não terminou, o sonho não acabou, Raul Seixas não morreu, Elvis vive e o Yoko Ono é mesmo uma farsa? Ou teremos todos virado, enfim, macacos? Este 2008 também serve para inúmeros lançamentos sobre os 200 anos da vinda da corte portuguesa. Basta ler "Dom João Sexto no Brasil", de Oliveira Lima. Está tudo lá. São 700 páginas sobre o assunto. Mas parece que o negócio é escrever platitudes sobre a Corte e polemizar se a viagem foi benéfica ou não para o Brasil. É a total rosetagem.

Só queria entender, nem precisa explicar. Por que não ler um clássico em vez de perder tempo com modinhas?

RETORNO - Imagem de hoje: estação ferroviária de Domingos Petrolini, no município de Rio Grande, RS. Abandonada, mas as campanhas publicitárias vão ficar tinindo.

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