21 de outubro de 2007

OS GRANDES DEBATES



Um dos grandes debates nacionais é (ou deveria ser): o que fazer com a natureza no Brasil? Queimá-la? Encher o que resta de terra arável com munição para o biodiesel? Deixar que o pampa se estiole e produza eucalitpto para multinacionais? Acabar com o resto da mata para criar boi? Mudar a política de preservação, que só tem gerado novos desertos?

País inexistente, o Brasil se volta para outros temas considerados candentes, como o fato de inúmeras mulheres levantarem uma grana posando nuas para revistas masculinas. Onde houver mídia, haverá a pergunta como fulana lida com essa coisa de objeto sexual, se nu artístico ou que sei eu.

Como o Brasil foi completamente capado, é um país passivo, então se envolve noite e dia com esses assuntos pífios que ocupam as mentes vazias, e que normalmente giram em torno do verbo dar. Nos subterrâneos, o estupro cresce, pois a emasculação tem efeitos colaterais e a covardia macha procura equilibrar de maneira assassina a gigantesca abertura de rabo a que condenaram a nação.

Vi a propaganda babosa de um grande nome de jazz americano, tratado justamente a pão-de-ló por nós. Vejam como perdemos a pista das grandes personalidades na área cultural. Quem temos hoje do qual podemos nos orgulhar? O escritor mais em evidência é notadamente tosco (o cara de zilhões de exemplares vendidos), o cantor de maior sucesso simplesmente berra (Daniel ou Chororô ou quetais), a cantora que vende mais discos não tem voz (Sandy ett alli), a maioria dos dramaturgos fazem peças descartáveis (nem vou citar), grandes cineastas são ou estão voltados para o estrangeiro (Babenco é argentino, Meirelles está em Hollywood, Walter Salles já se foi há tempos).

Qual é o grande sambista, o grande cantor, o genial compositor, o escritor que apostaríamos para o Nobel? Tínhamos de sobra até poucos anos atrás. Não temos mais um Drummond, um Cabral, um Tom Jobim, um Glauber, um Nelson Rodrigues. Grandes vultos brasileiros, que representavam a grandeza da nação. Somos agora pequenos, usamos calças curtas e brincamos no quintal. A toda hora nos chamam para nos dar uma surra.

O país virou sucata. Há uma obsessão geral e intempestiva pela violência, a genitália, a sacanagem. Nesse vácuo, vemos nulidades sendo incensadas como grandes figuras da pátria. Como o sujeito que tem uns três bilhões de dólares na carteira, é contumaz monopolista de insumos básicos, e ainda por cima participa como banqueiro da ciranda financeira, se mete a ser autor de teatro e é aplaudido até as lágrimas pelo puxa-saquismo deslumbrado. Como é correto ser rico! Para isso destruíram o Brasil e seus grandes representantes: para roubarem os aplausos!

Estamos na maré alta da mentalidade fascista. O apresentador dos shows esportivos diz com todas as letras que “as pessoas de bem” estão voltando aos estádios. No Brasil Colônia, os homens de bem eram os de posses. Os pobres eram suspeitos, pois a pobreza, a miséria, tem culpa no cartório, é o pecado original do nosso pré-capitalismo. Mas existem pessoas que enriquecem trabalhando, como aquele alemão que mora na pequena cidade do pequeno estado branquelo.

O país está pronto para uma ditadura tradicional fascista. Tem cultura de sobra para isso. Todos querem ditadura, já que a ditadura financeira não é suficiente. É preciso que os esquadrões da morte, com suas escuderias cheias de ossos e caveiras, tomem conta das ruas, matando a esmo “essa gente” que resolveu se proliferar e quer agora reivindicar espaço no país continente.

Você não tem voz? Basta tirar o título de eleitor. Aí você poderá gritar. Mas não seria mais prático debater algo como a dificuldade de transformar indignação em ação política? Como se rompe o cerco dos partidos que escolhem os candidatos? Como participar da política sem se envolver em corrupção? Como trabalhar contra a exclusão sem cair nas armadilhas que costumam manter a exclusão? Grandes debates, pequenos cidadãos.

RETORNO - Imagem de hoje: Luta, por Hélcio Toth.

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