17 de outubro de 2007

O PAÍS ILEGÍTIMO


Se a esposa de Benjamin Constant, um dos fundadores da República, é representada por um traveco, como aconteceu no quadro "É muita História”, do Fantástico, e se a Proclamação da República não passa de uma espécie de vingança de quem não tinha sido convidada para o Baile da Ilha Fiscal, como sugeriu o mesmo episódio televisivo, e se a República foi proclamada na cama, por um velho gagá vestindo pijamas, como mostrou essa versão, é porque o Brasil não é um país legítimo e merece ser entregue à sanha estrangeira. “É muita História” soma-se ao movimento oficial de desconstrução do país, que assim justifica a covardia bem remunerada de nos deixarmos sugar como um tomate maduro.

Na mesma senda, a Independência não foi conquistada, mas vendida para a Inglaterra, a Monarquia não prestava porque era escravocrata, apesar de ter libertado os escravos, a República é uma palhaçada pois foi uma confusão só que culminou com um golpezinho militar. Todas as décadas de luta pela República Brasileira foram jogadas no lixo pela decisão da abordagem, quando destacou a apropriação das versões pelo apresentador global, para desconforto do historiador militar que tentava apresentar o marechal Deodoro com dignidade.

O estamento intelectual no Brasil desempenha um importante papel na entrega do país. Desde os mais sofisticados pensadores, que jogam biografias no lixo ao defender governos espúrios, até os mais comezinhos idiotas que se arvoram a ser historiadores, apoiados por extensa massa ágrafa de professores, que jamais abriram um livro sério. Empenhados em transformar a educação num recreio interminável, deixaram ir para o ralo um dos pilares da soberania, a História como representação nacional da luta pela sobrevivência e sua transcendência. O Brasil, em mais de 500 anos de vida, não passa de uma bobagem. Assim, se joga no lixo o trabalho das gerações que nos outorgaram a nação.

Por que fazem isso? Porque são irresponsáveis e porque se sentem estrangeiros. Todos são portugueses, espanhóis, franceses, alemães, italianos, ingleses, americanos. Ninguém é brasileiro. O Brasil é a piada da hora. Só existe em função de algo fora de nós. Colocar pedágios em rodovias federais prontas e acabadas? É só deixar os espanhóis fazerem o serviço, enquanto luminares da imprensa apóiam a tunga, provando que essa é uma sábia decisão de um governo sábio. Não existe mais oposição porque há corrupção geral. E quando ela existe, não tem presença no debate. Fica de fora, como uma tropa de reserva.

Eu me pergunto onde estão os grandes historiadores que não se manifestam contra essa putaria que estão fazendo com a História do Brasil. Muitos nomes famosos têm culpa no cartório e os outros, calaram-se para sempre? Tenho uma biblioteca razoável, abro qualquer livro e está lá a sobriedade, o suor, o combate, o espírito público se manifestando em qualquer época do Brasil. Para onde foram princípios e valores? Jogados para baixo do tapete, terceirizados, privatizados, vendidos como sabonete?

“E aí o Marechal Deodoro, que não era de ferro, foi naná. Acordado, disse que a República estava feita”. E o palhaço vai para debaixo das cobertas como se a República fosse a fossa onde está metida a mentalidade desses traidores. Isso não é muita nem pouca história. É deboche. Ninguém se manifesta? Todos acham o máximo? O crime principal da História é se deixar levar pelas versões não costuradas por uma metodologia. No caso do Fantástico, os magníficos quadros sobre a República (um deles ilustra este post), reconhecidamente representações do evento, devem ser substituídos pelo pouco caso dos apresentadores midiáticos, empenhados em transformar a nação numa grande besteira.
RETORNO - Posso estar enganado, mas a Globo está vendendo o jogo de hoje da seleção brasileira no Maracanã como uma festa, um reencontro dos craques com os torcedores. Esquecem de dizer que o Maracanã adora vaiar a seleção. Pode acontecer uma tremenda vaia e ainda por cima os equatorianos ("si, se puede") encherem o saco do novo ídolo Julio César com alguns gols.

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