Blog de Nei Duclós. Jornalismo. Poesia. Literatura. Televisão. Cinema. Crítica. Livros. Cultura. Política. Esportes. História.
4 de agosto de 2025
AS QUATRO ESTAÇÕES
INÚTIL
28 de julho de 2025
OLHAR
26 de julho de 2025
VÍCIO
NA GUERRA
ACONTECE
21 de julho de 2025
Sesta
20 de julho de 2025
SÓTÃO
Nei Duclós
Deveria cuidar melhor
Do acervo da poesia
Acumulado no sótão
Das casas que abandonei
Melhorar as aparências
Para as visitas do rei
E assim receber os prêmios
Da glória reconhecida
Mas digo não tenho tempo
De passar lustre na vida
Ainda estou na ativa
Do esforço em duro caminho
Moro na noite e no dia
E não no limbo impecável
Do aplauso em terreno limpo
Pareço até vagabundo
Mas sou apenas soldado
E quem luta corpo a corpo
Tem a solidão mais funda
Cumprindo o roto destino
De ser último na fila
E Deus vê quem não se aplica
Em ceder sem compromisso
Com o valor sob medida
Do sótão desarrumado
Nei Duclós
19 de julho de 2025
SEM SOSSEGO
Nei Duclós
Sou um entre milhares
Teu anônimo pretendente
Já não sei se o sentimento
Virou lei de algum decreto
Ele não dá vencimento
E não cede nem compreendo
Mas a lógica persiste
Na palavra recorrente
Que revisita teu rosto
Entre tantos monumentos
Percorro estrofes, teu corpo
Com a fúria dos elementos
Esse é um amor sem sossego
Releve meu sonho, me esqueça
Que eu volto, bruto e ardente
Nao pense que serei manso
Depois de sofrer um tempo
Nei Duclós
17 de julho de 2025
DE MANHÃ
Nei Duclós
Eu enfrentaria um exército para te defender
Eu te daria mil beijos antes de morrer
Eu estaria ao teu lado mesmo sem saber
Se eu sobreviveria, estrela da manhã
15 de julho de 2025
ENIGMA
Nei Duclós
Eu estava dormindo no quarto de cima
Perto do meu irmão
Que há tempo não via
Quando veio a mãe de maneira aflita
Queria que um de nós atendesse a visita
Que batia no portão da casa vazia
Por que sonhamos coisas tão estranhas
Que ao acordar não sabemos ao certo
Quem somos nós em noite tão fria?
Acho que era dia mas não havia clima
Corria uma visão de hora tardia
Nenhuma explicação apenas enigma
Quem afinal a tantas horas insistia
Seria um sinal de que tudo está no fim?
Onde então, Providência divina
Devo me segurar no sono mais simples
Se vou despertar com a mãe que já se foi
Perto do irmão que há tempo não via?
Nei Duclós
14 de julho de 2025
POR ACASO
Nei Duclós
Amor é pensar em ti o tempo todo
Um lugar de onde não quero me retirar
Te chamam porque estás comigo há horas
Mas tu também não consegue ir embora
Esse convívio que é um momento sem igual
Em que, medrosos, matamos o tempo da estação
Até que deixamos escapar uma palavra
Conversa séria sobre o que será de nós
O clima não se desfaz, mas atingimos outro nível
Agora que decidimos não brincar
E embarcamos em direção ao mar
Posso dizer enfim que és minha mulher
No sonho que por acaso brotou só por brotar
Sou o mesmo cara que não te merecia
Fui escolhido pela beleza do destino
Nei Duclós
10 de julho de 2025
PALAVRA
Nei Duclós
Na longevidade Tolstoi descobriu que tudo era inútil
Suas posses, seus títulos, sua obra
Brigou em casa pois queria se desfazer de tudo
Tirar as vestes da sua glória
Por isso fugiu no inverno e morreu de pneumonia numa estação de trem
Rimbaud foi mais precoce
Descobriu a mesma coisa aos 20 anos e não aos 82, como Tolstoi
O autor é só uma ferramenta dos anjos que sopram a literatura
na redação das nuvens
É deixado de lado depois da missão cumprida
É esquecido mesmo com homenagens
Fica a palavra, única criação do Paraíso
Nei Duclós
REGRESSO
Nei Duclós
Remorso por não ter feito
Agora não tem mais jeito
Não conserto meus defeitos
Fico torto para sempre
Livrei-me dos compromissos
Varri a porta da frente
Lembro da mãe esperando
Na calçada o seu rebento
Que desistiu dos estudos
Depois de tanto tormento
Ela diz que não aguenta
A traição do estudante
Mas eu tinha outros planos
Abrir mão sem mais nem menos
Das ilusões da carreira
Comigo me desavim
Como dizem num poema
O pai achou muito estranho
O guri está variando
De tudo eu me arrependo
De estudioso a vagabundo
Rolando pela sarjeta
Saindo da classe média
Tudo passou, me convenço
Menos o amargo regresso
Ao sonho daquele tempo
Nei Duclós
JANGADAS
Nei Duclós
Posto demais. Mais pelo registro do que pela leitura.
Porque ninguém atura tanta produção.
É a longevidade que conduz ao excesso. Ou à falta de compostura.
Não há futuro quando a literatura no lugar de fonte vira mar.
Palavras salgadas vindas de Portugal. Que aportam no Brasil depois de Cabral.
Cais da perdição. Jangadas de não voltar.
Nei Duclós
ENFIM
Nei Duclós
O ser é o nada
O verbo ser
O nada a ver
Dizer não sou
Quando és
Nada aos pés
Surta solidão
Corso de ilusão
Andor de procissão
Um poema é o mínimo
Para sobreviver
Enfim criar amor
Nei Duclós
7 de julho de 2025
OUVIDORIA
Nei Duclós
Acho que Deus se aborrece
De ouvir sempre a mesma ladainha
Tantas vezes repetida
Sem que a reza revele
O poder de uma oração
Preciso encontrar as palavras
Que me aproximem do Seu ouvido
Onde buscá-las
Cercadas pelo cotidiano entulho?
Peço socorro a Maria
Que todo santo dia
Nos assiste
Com paciência infinita
Basta escutar os anjos, ela me diz
Os que chamam de inspiração
E são emissários do Espírito
Deus escuta
Mas poesia Ele presta mais atenção
Nei Duclós
6 de julho de 2025
AURORA
Nei Duclós
Por ter escrito tudo
Amargo esta noite o abandono do poema
Cruzei a linha de chegada
E revisito o já dito com reservas
Exagerei na dose da vocação precoce
Que na tardia idade revelou as sobras
Do verso de improviso, do texto sem retoque
Muitos não concordam e selecionam estrofes
Que cometi jovem no calor da hora
Deveria, no capricho, me aprofundar no ofício
Mas tudo veio fácil como um vento forte
Agora não sei o que dizer, em plena aurora
Talvez o sol, gigantesco sábio
Queime o remorso e revele a obra
Tudo o que fiz com sangue nas mãos e água nos olhos
Pobre coração ainda intacto
Nei Duclós
NOBREZA
Nei Duclós
Meu luxo é sobreviver
Chegar bem no fim do mês
Para então recomeçar
Sustentado pelo ar
Muitas contas para pagar
Eu dependo de você
Sem força de levantar
Rima pobre popular
Ainda tudo por fazer
O livro parei de ler
Amor que é bom só virtual
Um vizinho põe o som
Meu luxo é teu respirar
Janelas de par em par
Futuro ficou para trás
Eu não tenho mais lugar
O país caiu de vez
Mas a nobreza é ter voz
Canto para não morrer
Nei Duclós
4 de julho de 2025
SOMBRA
Nei Duclós
Este que você vê não sou mais eu
O que fui sempre serei
Guarde o que o tempo não comeu
Esqueça no que me transformei
Essa sombra de mim, que já fui rei
Prefiro preservar dias de amor
Quando fui teu
Nei Duclós
UMA FLOR
Nei Duclós
Que haja calor no inverno
para suportarmos o ar polar
E vento sul antes do sufoco do verão
E o friozinho do outono adoce os frutos da estação
E a primavera traga teu perfume
Feminino amor
Nei Duclós
CONJUGAÇÃO
Nei Duclós
Não adianta querer se você não é
Não adianta ser se você não quer
Não adianta ver se não tiver fé
Não adianta ter se nada houver
Só tem que nadar quando não dá pé
Quando for rezar pense no amanhã
Cada verso faz o teu navegar
Caia se essa força não te socorrer
Volte a levantar todo amanhecer
Nei Duclós
3 de julho de 2025
PERDIDA
Nei Duclós
Eu não preciso de tempo
Eu não preciso de amor
Podem dizer que sou lento
Não mais importa o que sou
A não ser que marques encontro
Um café ou apartamento
Que me apresse e nunca te perca
Desta vez, perdida para sempre
Nei Duclós
1 de julho de 2025
ABERTA
Nei Duclós
Estrelas da minha fantasia
Fazem rodízio no paraíso
onde vivo
Dispondo as peças do xadrez de sonhos
Sou o peão e o rei é o tempo
Que escorre pelos dedos longos
Poderia tocar piano minha flor aberta
Debaixo das cobertas
Cabem todas as teclas
Fique perto
Nei Duclós
28 de junho de 2025
QUATRO ESTAÇÕES
Nei Duclós
No inverno ficamos mais velhos
A idade não avança na primavera
Depois o verão queima todas as células
Mas chega o outono e você se recupera
Não que remoce
Ou se acostume com a perda
Mas o tempo repõe o que mais queres
Tua fome de amor por uma incerta princesa
Nei Duclós
CORRERIA
Nei Duclós
Admiro quem se movimenta
Anda corre pula dança
Eu também estive no front
Sem tanta intensidade, só para o gasto
Hoje observo os contemporâneos
No fundo, passei a maior parte do tempo
Sem ter o que fazer com meu corpo
Sonhei, mas isso todos são capazes
Fiquei, quando me diziam vamos
Ao me verem deitado repassavam encargos
Que eu cumpria a caro custo
O que me empolgava eram os estudos
E os versos na máquina Smith Corona
A literatura foi minha maratona
Nei Duclós
27 de junho de 2025
JUNTOS
Nei Duclós
Às vezes falo sozinho
Rompo o silêncio, por certo
É quando digo a verdade
E não quero que contestem
Já me basta quem tece
Armadilhas da conversa
Prefiro ser o que penso
E que ninguém esclarece
Assim mesmo tem assunto
Que eu não consigo consenso
Peço a palavra insurgente
E brigo por um aparte
Já quiseram me internar
Mas fácil me recomponho
É só uma trova, paisano
Segue a roda e estamos juntos
Nei Duclós
26 de junho de 2025
MADEIRA
Nei Duclós
Falo na madrugada para o nada
Ruas vazias, janelas fechadas
Inútil boemia de bêbada sorte
Sou o último poeta desse pobre porre
Falo lesado pelo destino incerto
Quando veio minha vez tudo estava morto
Quis saber do mistério mas ele também se cala
Resta a ilusão de que uma hora amanhece
Aí quem sabe a vida acontece
E desperta o que tinha de múltiplas vozes
Enterradas no peito de madeira nobre
Nei Duclós
25 de junho de 2025
PERDA
Nei Duclós
Já não te enxergo mais, corpo do avesso
De tão exposta perdeste a forma
Eras cascata em tarde no outono
Hoje és a flor escondida no ermo
Aperto os olhos e nada vejo
Apenas ouço teu passo de seda
Assediando o poema, que cego te perde
Nei Duclós
24 de junho de 2025
INVERNO
Nei Duclós
Tua lembrança aquece o quarto frio
Na solidão o inverno é o coração
Sem esperança de um dia retornar
À dança de salão onde fui te namorar
A memória é uma estação de esqui
Lá eu deslizo para bem longe de ti
Aceno com meu gorro de lã gris
Mas a neve te leva para não me ver
Atiço a brasa que está quase por morrer
A coberta gasta não consegue segurar
O telefone tinha o hábito de tocar
Mas os teus dedos escorregam para o mar
Nei Duclós
22 de junho de 2025
VALOR
Nei Duclós
Toda obra joguei na calçada
O tempo devorou seu valor
Versos sem apoio
Poemas furta cor
E tu distante porque viste
No primeiro instante
O que eu exibia fingindo amor
Nei Duclós
20 de junho de 2025
DEMORA
Nei Duclós
Fiquei preocupado hoje
Custou a amanhecer
Pensei: e se a noite decidir ficar?
Não a noite de estrelas e luar
Ou a nublada com sua dose invernal
Mas a noite que se assenhora da manhã
E demora em treva temporã?
Essa escuridão sem a origem crepuscular
Invasão que devora o dia ainda no ventre
Assassina da promessa da claridade urgente
Estação do amor conosco sempre
Temos fome de café com pão
Que é o sol, nossa ração diária
Não inventa, poesia, de nos assustar
Não tenho saúde para suportar a dor
De esperar a alvorada antes de morrer
Nei Duclós
17 de junho de 2025
OCULTA
Nei Duclós
O grande amor é um relâmpago
Ilumina por um segundo
Depois te joga no escuro
Não tem vocação de ficar junto
Não vive para repetir o escândalo
De aparecer de repente com estrago
Sua meta é a fuga
Não se responsabiliza pelo que abandona
Acha muito a sensação que dá de graça
Por isso é escassa, se vinga
De sua natureza bruta
Volta amor, dirás sozinho
Enquanto ela ri oculta em tua fantasia
Nei Duclós
CREPÚSCULO
Nei Duclós
Já escrevi sobre tudo
Praia deserta, calça de veludo
Amor partido, perda de rumo
Sobrevivi, poeta de água doce
Veterano precoce
Porre de aventura
Sei que perdi, queda no abismo
Mas vitória é para os fracos, gozo iludido
Vale a lucidez, crepúsculo de vidro
Nei Duclós
10 de junho de 2025
VIDRO
Nei Duclós
Não lembro deste corpo de vidro
Que quebra ao primeiro vento
Este poema partido
Em trens de longo trajeto
Não lembro de ter esquecido
O momento mais ferido
Herança no eterno presente
A pulsar como um espinho
Sou o que fica para sempre
Pastor de estranho rebanho
Na montanha bebo a água
Que forma o esquecimento
Nei Duclós
2 de junho de 2025
RETORNO
Nei Duclós
Não tenho mais o retorno
Não perguntam, nem respondem
Continuam ocupados
Sou tratado como estranho
Celebram, enquanto me excluem
Desse bizarro mercado
Já fiz parte dessa obra
Quando me dava importância
Agora chegou minha vez
De ser cachorro sarnento
Cumprimento para o vazio
Nem mesmo o vento me acena
E se acaso apareço
Está vivo, se surpreendem
Num alvoroço de perdas
Nunca fui muito chegado
Recolhido ao próprio canto
Fui alguém quando chamado
Mas nunca fiz muito esforço
Por isso passo ao largo
Fingindo que não me importo
Mas isso dói em silêncio
De um veterano da guerra
Hoje quem bate na porta
São as lembranças de um tempo
Que não me sai da memória
Vivi porque Deus permite
Venci porque fui História
Não mereço ter a sorte
Do bem querer que acompanha
Quem é antigo e apanha
Da vida que não dá trégua
Nei Duclós
1 de junho de 2025
DUAS ALMAS
Nei Duclós
Procuras por poesia
Por isso evitas meus insultos
Mesmo que não busques, ao ficar decides
compreender o verso elaborado bruto
Que gera ametista, tua leitura
Assim vamos, duas almas perdidas
Uma que verte areia na paisagem dos sentidos
Outra que extrai água de camadas profundas
Tua epifania
Nei Duclós
28 de maio de 2025
DIGO
Nei Duclós
Falo por falar
Escrevo para valer
Digo por fazer
de conta do saber
Só lendo é que eu sei
Segredos de ninguém
O que você não vê
É a letra que escondi
Vejo a mão de Deus
No livro que lancei
Um dia repeti
O que não escutei
Depois me arrependi
No mar onde sou rei
Nei Duclós
27 de maio de 2025
DESCOBERTA
Nei Duclós
A vida é real, concreta. Mas quando chega a terceira idade você descobre que tudo é uma ilusão. Você enterra a biografia, as amizades, pessoas da família e vê envelhecer quem existia como presença permanente e parâmetro do teu imaginário. Os corpos despencam e a mente acumula equívocos.
Só tu, meu amor, estrela guia, flor da lua, serena e divina paira no ar do apocalipse. Seja você quem for que deita em meu sonho como orvalho na pétala amanhecida.
Nei Duclós
25 de maio de 2025
ALMA GÊMEA
Nei Duclós
A verdadeira nobreza é o sentimento
Não o dinheiro
Que não compra linhagem nem beleza
Sem amor somos apenas carne
Ossos e nervos
Animados por um mistério, a vida
Que na essência vai atrás do que sente
Alguém da família, ou amante, ou amiga
Por isso existem príncipes e princesas
Talvez na monarquia mas nem sempre
Normalmente descobertos por acaso
Nas ruas de desespero e desconfiança
Venha, nobre coração
Alma gêmea
Nosso brasão são momentos de ternura
Que brilham no sol da tarde e no luar
Nei Duclós
DECISÃO
Nei Duclós
Não cumpri a promessa
Recuei na conversa
Rasguei o contrato
Não mantive a palavra
Teimei no meu erro
Não fui ao concerto
Falhei todo o tempo
Saí pelos fundos
Não vou quando é certo
Fiquei no chamado
Fugi nessa hora
Corri mesmo perto
Avisei, mas não viram
Escolhi mar aberto
Nei Duclós
22 de maio de 2025
ESTÁDIO
Nei Duclós
Agora me perdi, flor do cerrado
Monte que no pampa submerge
Em mares de neblina mal chega o inverno
Gruta onde esqueci o som de algum milagre
Onde estarei se o mar ainda é incriado?
Caí no chão que a lama tece
Entre o troar da tempestade
Acorreu-me o sonho, escudeiro pobre
Levado de arrasto por uma estrofe
Tudo é o verbo que inventou e sofre
O mundo que nunca me socorre
Aguardo o desfecho, jogo de bola
No estádio vazio e o coração mais forte
Nei Duclós
21 de maio de 2025
TRUQUES
Nei Duclós
O desejo era secreto
Pois teu corpo estava oculto
Mesmo tirando a roupa
Não exibias teu mundo
Palavras como recôndita
Íntima, úmida, crua
Guardavam o prazer imenso
Que não confessa seu nome
Não que estivesses nua
Sob a capa dos sentidos
Que espicaçavam os brutos
Mas sim porque não diziam
O verbo em libras dos mudos
Foi assim que vi primeiro
Os segredos femininos
Antes que todos notassem
Teu andar sobre a laguna
Caminhas como nos trilhos
Trafega o temor
do escuro
Vestido, echarpe, biquíni
Tudo nos leva à tortura
Depois ao lado da cama
Existes só de mentira
Porque a musa na armadilha
Usa seus subterfúgios
Sou suspeito, vivo à toa
Nos truques do teu destino
Nei Duclós
19 de maio de 2025
MESMA MOEDA
Nei Duclós
Antes de eu nascer
O mundo não precisou de mim
Depois, muito menos
Continuará normal
Quando eu desaparecer
Por isso esse beijo desnecessário que te dou
É a única prova de que a indiferença do mundo
É a sua principal vítima
Via de mão dupla
Ele ignora, eu retribuo
Nei Duclós
5 de maio de 2025
CADA UM
Nei Duclós
As almas são impermeáveis
Não reagem, apenas devolvem
As consciências estão fechadas
Portas da percepção com cadeado
Não adianta insistir, apresentar provas
Dentro do Outro ninguém tem acesso
Só se convencem se houver sintonia
Entre o que está dentro
Com o que vem de fora
O influencer e o formador de opinião
São anedotas
Cada um é o seu supremo vórtice
Topo do mundo, que na cadeia alimentar
A tudo devora
Nei Duclós
LÁGRIMA
Nei Duclós
Quem somos nós que choramos por nada?
E que todos riem como se fôssemos palhaços
Escondemos o rosto para que só Deus veja
Esse sentimento que de nós transborda
Somos derretidos diante do milagre
Não choramos por lamentar a barbárie
Isso todos os sensíveis fazem
Somos diferentes, essa emoção que mata
Porque a vida não se explica nem com verso e prosa
É inútil escrever por isso tanta lágrima
Choramos juntos, eu na noite alta
E tu, diurna, pranto de tua obra
Nei Duclós
3 de maio de 2025
ESPÍRITO
Nei Duclós
Não tenho fim nem começo
A não ser um verso sem pé nem cabeça
Que não foi convocado e não consegue dizer
Ele próprio é apenas um ser
Que veio de um lugar que só eu sei
E por isso não poderá conquistar o que for
Sou um espírito antigo do mar
Nei Duclós
30 de abril de 2025
URGÊNCIA
Nei Duclós
No dia em que eu sumir de vista
Por alguma urgência, um escândalo, um naufrágio
E meus passos forem confundidos na areia
E a memória cair no esquecimento
Nada haverá que me traga de volta
Nem os versos ou a trajetória
Estarei no espaço a mim dedicado
Quando aqui cheguei e eu ignorava
Uma curva na estrada do parque abandonado
Teu colo, talvez tua cama
Íntima beldade do meu sonho
Nei Duclós
28 de abril de 2025
FUI MELHOR
Nei Duclós
Fui melhor quando era moço
Com a idade, piorei
Quem me vê assim tão torto
Pergunta por onde andei
Pelo deserto do tempo
Pelos mergulhos do mar
Nas guerras não declaradas
Nos desacordos da paz
Mas nada se justifica
Todos conhecem o caminho
Lancei talentos no abismo
Perdi chances de ganhar
Fui melhor quando era moço
Agora vou devagar
Ando com muito esforço
Vejo o que não enxergo
Ouço o berro e nada mais
Da polpa restou o caroço
A vida se vinga à toa
Estou cada vez melhor
Nei Duclós
22 de abril de 2025
LONGE
Nei Duclós
Abraço meu braço
Que é teu corpo
E beijo tua mão
Que é meu rosto
Digo num sopro
palavras doces
Mas não respondes
És apenas sonho
Quem sou eu?
Pobre esboço
Do amor antigo
que joguei fora
Fomos embora
e hoje soluço
Junto ao poço
Que é meu espelho
Durmo comigo
Flor que não tenho
De longe venho
Para longe voo
Nei Duclós
19 de abril de 2025
VOZ DE PRISÃO
Nei Duclós
Alguém me deu voz de prisão
Não sei quem foi, mas estou preso
Não saio da cela e perdi todos os amigos
Achei que estava morto
Mas as contas não param de chegar
Já escrevi longas cartas para as autoridades
Mas não obtive resposta ou talvez nem foram entregues
Por isso diminuí o volume dos meus recados
E espalho papéis entre os pássaros que buscam comida que não tenho
Lamento tamanho desperdício
Não escrevi o romance da minha geração
Fiquei proscrito no poema
Que é uma forma de oração
Rezo todos os dias pela liberdade
Do meu país, da minha cidade
Alguém me diga o dia que poderei ir embora
Longe de quem me prendeu
E esqueceu as chaves
Nei Duclós
16 de abril de 2025
AMANHECE
Nei Duclós
O sol acorda tarde no outono
Exausto da trabalheira do verão
Avança tímido sua precoce claridade
Que desliza como onda próxima do mar na escassa areia
Insone, aguardo o momento em que me despeço das lâmpadas acesas
Que ficaram em vigília junto com o cão
Na noite interminável
E fico aliviado com as gotas diurnas de luz
Que borrifam as árvores impregnadas de plumas e pios
Amanhece lentamente no tempo parado onde me encontro
A descobrir que o futuro é idêntico ao princípio
No ciclo inaugurado pelo verbo encolhido de frio
Nei Duclós
13 de abril de 2025
NOVIDADE
Nei Duclós
Revirei os arquivos em busca de um verso em tua homenagem
Não achei
Talvez por seres recente e eu fui além da data de validade
Mas o amor não pergunta, escreve
Na pele dos dias o prazer de verdade
Então procuro criar a palavra sem uso
Para fazer justiça ao que sinto
Só que o poema me falta
Beldade do abismo
Perdi muito tempo na forja da linguagem
E tu me trazes uma novidade
A qualidade física do sentimento
O beijo de mel e carne
Nei Duclós
11 de abril de 2025
CUIDADO!
Nei Duclós
Poema derramado de amor é falso.
Amor é conflito na véspera do amasso. É remorso no tempo tardio do desencontro. É paz desesperada.
Não minta , porque o amor não é trouxa.
8 de abril de 2025
ESTA TERÇA
Nei Duclós
O Tempo poderia estacionar nesta terça-feira
Em que o Outono frio aos poucos se esquenta
Conforme o sol vai avançando sobre a sombra
E todas as dores dão um tempo nos ossos
Enquanto nos acomodamos na úmida varanda
A percorrer o que vivemos com o canto do olho
Seria uma espécie de eternidade amena
Sem destino a cumprir, apenas o ponto
Onde a paz sobra nos extremos
Até poderia depois migrar para a semana seguinte
Mas esta terça ficaria a sós comigo dentro
O momento máximo de realização terrena
Quando tudo está por fazer apesar de muito que já foi feito
Uma espécie de acordo para evitar a guerra
Assinatura de espíritos de uma fé suprema
Nei Duclós
3 de abril de 2025
FUTURO
Nei Duclós
Quando você for velho e todos teus amigos estiverem mortos
único sobrevivente da tua espécie
A encarar ainda vivo o rosto de Deus
E teu corpo ringir como armário antigo
Em casas assombradas pela memória
E não houver nada a não ser a companhia extinta do teu sonho
Verás que foi tudo uma ilusão
E tua vida não cumpriu vontades terrenas
Como andar sobre as águas ou fundar um reino
E serás apenas mais um na fila que os anjos organizam
Para as almas se recolherem ao que resta de um Paraíso
Que foi teu amor perdido e ainda intacto
Como um verso dito num céu obscuro
Nei Duclós
2 de abril de 2025
OBRA DO AMOR
Nei Duclós
De todas, a mais bela
Por obra do amor
Do que o amor fez por ela
Definiu o rosto conforme a aurora
Desenhou os traços da primavera
Decidiu a flor que lhe cobre a fronte
Sem nenhum plano, no meio da tarde
De todas, a que ninguém torce
Porque nasceu assim, destino nobre
Força de quem fica em plenitude
Na espera de alguém, só por esporte
Metais não desafiam a sua corte
Ela contém o verbo, de outras vidas
somadas em seu regaço
Onde me recupero
e para sempre moro
Nei Duclós
29 de março de 2025
DESCOBERTA
Nei Duclós
Cada dia descubro novos tesouros em ti
Vivências ocultas que vem à tona
Momentos que inventas quando menos se espera
Canções que não lembras e assim mesmo cantas
Sonhos bizarros que já não mais te atormentam
Cada dia é uma nova festa do sentimento
Admiro à distância pois sou suspeito
Poderão desconfiar que eu te amo
Nei Duclós
23 de março de 2025
,SUDOESTE
Nei Duclós
O sol nasce à esquerda do meu quarto
E deita à direita da varanda
Dos ventos prefiro o sudoeste
Mistura de brisa de outono com lascas de verão
Sopra intermitente depois do almoço
(pastel de carne com vitamina de mamão)
Faço a digestão na tarde morna acariciada pelo meu vento favorito
Max na grama aguarda a visita da dona, a neta
Que ao chegar proíbe que eu ralhe com seu protegido
Ele se aproveita e percorre a casa fuçando tudo
Como se não houvesse mais amanhã
Vou para o quarto e ligo o ventilador virado para a parede
É meu sudoeste doméstico que acompanha minha navegação
A vida é um cão de guarda
Que aguarda a visita de quem traz amor
Nei Duclós
22 de março de 2025
PAZ
Nei Duclós
Pássaros fazem algazarra às cinco da manhã
Quando ainda está escuro
E a tímida claridade continua no ovo
Custando a despertar
Sem sono, faço café para o corpo se acostumar
Ao fim da noite
E ao lento passo pesado de um sol que não se anuncia
Mas sabemos que ele não depende de profecia
Para inundar sua amante, a Terra
Onde experimentamos viver uma eternidade
Enquanto cavam as trevas com o terror de suas pás
Teremos paz
Alguns segundos antes de amanhecer
Nei Duclós
19 de março de 2025
LUZ VIVA
Nei Duclós
Não vi a lua de sangue
Nem a chuva de meteoros
Não vi a aurora boreal
Nem Ovnis em Nova York
Desconheço os annunaki, e os sumérios
Acho as pirâmides um saco e sua ausência de sarcófagos
Por mim todos os arqueólogos
Que querem reescrever a História
Deveriam fazer cinema
Junto com Harrisson Ford
Não acredito que estrelas
Sejam apenas luz morta
A ciência é cega e o poema
É tudo o que nos resta
Nei Duclós
17 de março de 2025
MALABARISMOS
Nei Duclós
Jogo de palavras
Não garante o poema
Aproximar as sílabas de significados opostos
Equilibrar sintonias como os pratos no circo
Ou malabarismos de trapezista
Tudo isso já foi tentado
Pelos mestres do ofício
Que desistiram e voltaram para o verbo cru da poesia
A modernidade é um equívoco
Sempre voltamos ao verbo básico
Canteiro de madressilvas
Pode haver
Mas arte dispensa estrepolias
Nei Duclós
11 de março de 2025
RUMO
Nei Duclós
Mal começou e já acabou o dia
Não há surpresa na aposentadoria
O mesmo rumo de manhã à noite
A espera de algo há muito prometido
Não é a mocidade, que não tem rodízio
Nem a sorte grande, na mão dos bandidos
Talvez um temporal que varra o clima
Ou uma reviravolta na política
Saudade do tempo em que fui para a rua
Somando vocação com chuva de granizo
Quem sabe possa voar como um peregrino
De mochila e um farnel para certa ocasião
Acampar no futuro enquanto há saúde
Ter um coração e teu gesto de doçura
Nei Duclós
9 de março de 2025
ENROSCO
Nei Duclós
Molhou os olhos e não era choro
Era além do gozo, água de fogo
Que um soluço extraía do fôlego
Que era curto circuito, bruto joio
Paz com remorso sem recursos
Pedindo mais cheia de vergonha
Era lágrima fora de sua fonte
Gosto de amor e nenhum decoro
Eu sabia que eras louca
Mas fiquei surpreso diante do sopro
E o que era soco virou enrosco
Lago de sonho, teu rosto de uma dor sem nome
Escândalo, esporro
Navio invadindo o porto
Nei Duclós
5 de março de 2025
ACHO POUCO
Nei Duclós
Acho pouco a devassa que faço
Com a palavra que rasga, a impiedade
Tida como literatura
E é só vizinhança do romper da aurora
Acho pouco e jogo fora
Tudo o que sei e ignoro
Fico preso à dor de ser teu protetor e algoz
Ao meu grude sedento de flor
Que por culpa sua e arte maior
Esse amor evapora e se refaz em nuvem de verão
Chuva que não vem mas te molha
Nei Duclós
25 de fevereiro de 2025
CORINGA
Nei Duclós
Agora nada faz sentido
A morte apaga o ser infinito
E o corpo em decúbito não vibra
E perdes até a memória de um dia ter vivido
A terra aguarda a sobra do espírito
E quem te ama se afasta como um cachorro
E o que foi dito não grita
O silêncio a tudo reduz como um tiro definitivo
Nada medra depois do estampido
E escutas que és triste como as palavras proferidas no crepúsculo
Aqui me tens, Deus sem misericórdia
Nasci para este momento de despedida
E a única fé é minha teimosia
Que chamam de resistência mas é só a alegria de saber fazer um poema
Quando o amor prova ser o coringa
Ao dar as cartas para que o jogo mau se desmoralize
Nei Duclós
14 de fevereiro de 2025
RENASCIDAS
Nei Duclós
Não me vendi
Por isso fui ignorado
Pelas proparoxítonas
Os cânones, os trâmites, os frêmitos
Ganhei a liberdade do exílio
Exerço outro ofício
O da letra morta que ressuscito
Ninguém compra
Mas é bonito vê-las trôpegas recém renascidas
Em direção ao mar
Nei Duclós
9 de fevereiro de 2025
JARDIM
Nei Duclós
Fui podando o entorno
Como se poda a roseira
Flores mortas na cruz de madeira
Até atingir o osso, a flor verdadeira
A fé onde nada excede, pés de Nossa Senhora
Que pena, disseram os colegas
Eras autêntico, agora um jardineiro
É falso esse passo descalço
Convicto, nem respondo
Já afiei a tesoura
Nei Duclós
7 de fevereiro de 2025
CICATRIZ
Nei Duclós
Minha arte cala quando consente
Por isso rala onde mata o tempo
Assim reduz o coro dos contentes
E fica firme como raiz ao vento
Era para cansar tanto sofrimento
Mas a poesia não vem a passeio
Acampa se houver tiroteio
Quando dizem você tem sorte
Mostro a cicatriz dos ferimentos
Nasci torto, no canto me indireito
Nei Duclós
6 de fevereiro de 2025
ESTRELA
Nei Duclós
Não há vantagem em dizer o que penso
Perco tempo, perco dinheiro
Antigas amizades vão para o brejo
A solidão da consciência
O exílio da diferença
Vantagem faz falta mas não me atrevo
Calar o que grita aqui dentro
Nada paga essa esgrima violenta
Não sei se sigo, estrela cadente
Nei Duclós
5 de fevereiro de 2025
SOBREVIVER
Nei Duclós
Respeito aos mais velhos é honrar o que você desconhece
Esse trecho de tempo que está no comando
Essa pele riscada por desavenças
Esse passo exausto de andar e já não anda
Essa boca murcha, esse olhar de sombra
Essa voz sem razão que aconselha o medo
Não porque você um dia chegará lá, porque não chega
Vidas perdidas foram a última chance
Mas porque você prefere esquecer o que jamais lembra
Que pretende ser o que ninguém é, um gigante
Pois tudo escorrega no alto da montanha
E somos água corrente em cachoeira
E jamais saberemos o que é sobreviver
Quando tudo está morto
Nei Duclós
1 de fevereiro de 2025
LICENÇA
Nei Duclós
Licença poética não existe.
Poesia não pede licença.
Poesia é seu próprio canal.
Mora em si mesma.
Cultiva um punhal
Com raízes de espuma
Água do verbo seminal
Tem o poeta, que cuida do jardim.
E oferece os frutos do pomar.
O amor que medra no quintal
Nei Duclós
27 de janeiro de 2025
MISSÃO
Nei Duclós
A nós cabe cumprir as profecias
E não profetizar, como os fundadores
Fora do cânone somos o que chamaram de esperança
Confiando no futuro
Como se o porvir já estivesse pronto
Ficamos com a parte mais difícil
Herdar certezas que não fazem mais sentido
E lavrar a terra bruta que nos legaram entre espinhos
Temos poucas mãos
para essa missão de manter o mundo
Mesmo depois de destruído
Nei Duclós
23 de janeiro de 2025
LIMITE
Nei Duclós
De você não quero nada
De você, amiga
De você irmão, amada
Das promessas, asas, falas
De ti, destino
De você, futuro
De mim, mendigo
Não é cansaço, apenas digo
Uso o fruto da palavra
Nada demais
Depois de tanta vida
Antes do tempo surdo
Não espero, não consigo
Não carrego compromisso
Sou meu limite
Esse porte de arma
Esse pote de arco-íris
Nei Duclós
19 de janeiro de 2025
ALVENARIA
Nei Duclós
Não discordei de quem me considera
Poderia ser desaforo, mas não era
Apenas meu jeito de ficar na cela
A remoer opiniões que não libero
Quisera ser outra pessoa
Não esta fera
Sem compromisso
De agradecer por permanecer vivo
Chutar o balde, dizer isso e mais aquilo
Será que essa decisão me aliviaria?
Difícil conjugar o verbo na alvenaria
Da gramática bruta e frases de granito
Escolho as vogais, letras do espírito
Vozes do que serei, mais ou menos dia
Nei Duclós
17 de janeiro de 2025
PASSA PASSARÁ
Nei Duclós
Pássaro é o amor que canta
Não o que virá
Mas o que se apresenta
Voz de outras bandas
Plumas ao vento
Pássaro é no fio um pouso
Ninho de galhos tortos
Saliva no barro podre
Água que cabe no bico
Cisco para o almoço
Pássaro é corpo, é coro
Que joga na janela
Uma flor, só de retoço
Te convida para o voo
Não vais, e parece nojo
Mas é que também passas
Para não ficar à toa
Pássara, esse é o assombro
Pintada de branco e roxo
Nei Duclós
9 de janeiro de 2025
DESAPAREÇO
Nei Duclós
Não posso recusar tua presença
Que veio do amor e hoje é doença
Teu corpo feito de promessa
Olhar que inunda e fere como lança
Dizer eu te amo tem controvérsia
Sou súdito anônimo, mísero poeta
Diante da deusa sumo de vista
Fica o perfume de um coração exausto
Nei Duclós
8 de janeiro de 2025
PROMESSA
Nei Duclós
Quisera dar esperança
Mas isso não me pertence
Nada que eu tenho te alcança
Exceto doses de espanto
Precária flor da alma tensa
O que eu sou não te resolve
Não propõe força e confiança
Frágil som de muda banda
Corpo exausto em fé humana
Mas o que tens me complementa
O que és impede o tombo
Vens de longe como um vento
Gerado em firme promessa
Nei Duclós
6 de janeiro de 2025
ESPERANÇA
Nei Duclós
O mundo derreteu aos nossos olhos
Os heróis se revelaram patifes
E o que era vasto
Tornou-se mesquinho
Tínhamos presença nessa época
E o respeito, que se desvaneceu
O maior crime foi a palavra
Que apodreceu dentro de nós
E o amor tornado inútil
Depois que você partiu
Dos meus espaços
Só a esperança permaneceu
Como cão que guarda a alma
De quem o alimentou
Nei Duclós