20 de julho de 2024

MISTURA

Nei Duclós 

Troco a noite pelo dia
Durmo na hora do almoço 
Acordo perto da lua

Vou trabalhar na madruga
Visto pijama na esquina
Puxo coberta às duas
Da tarde fria sem nuvem 

Um hábito tão bizarro
Surgiu sem nenhuma culpa
Talvez seja o meteoro
Ou as mudanças do clima

Todos notaram mas calam
Respeitam o louco da rua
Tomo banho de caneca
Quando bate a ventania

Depois volto para casa
Cumpro rígida rotina
Bato relógio do ponto
Na cama onde fantasio

Sou o próprio vagabundo
Na cidade dos distintos
Todos jantam no crepúsculo
Eu lancho na Ave Maria

Café preto com torradas 
Num avesso de alvorada
Meu corpo é roupa de gala
Minha sesta é  a poesia

Nei Duclós

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