9 de julho de 2024

ACENO

Nei Duclós 


Chamam sedentário quem não sai de casa

Preso a rotinas de sufoco

Mal sabem que o Tempo nunca é o mesmo

E nele trafegamos sem retorno


Nenhuma terça-feira se equipara

Ao acúmulo de memória nesse dia

Ela inaugura, esse é o seu costume

Também não tentamos ser idênticos

Ao que fomos na última quarentena


Conversa, costumam dizer

Você só justifica sua preguiça

Vá passear, seja um contemporâneo 

E não esse arremedo de pontífice 


Pode ser, admito, mas lembro 

que cruzei o pampa de carona

E trabalhei em jaulas de leões

Em muitos anos de puro atrevimento

No veloz rodízio dos peões 


E hoje, fixo, pensativo

Assistindo todos os assuntos

Não troco meu sedentarismo

Pela conquista do Himalaia


Moro no solar da poesia

Onde o Tempo chega de viagem

E descansa perto de uma praia

sabendo que ainda continua

Como as árvores com raízes e seus frutos

Que não saem do pomar da fantasia

mas acenam para os anjos que o convidam

Para a vida em qualquer procedimento


Nei Duclós 

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