19 de julho de 2023

FLAMENCO

 Nei Duclós 


A dança do flamenco são gestos de ameaça

De corpos que giram e se retorcem

Como a buscar ou livrar-se de alguma coisa


E quando encontram jogam o rosto para cima

E quando perdem se atiram em abismos Invisíveis 

  

O ritmo metálico do sapateado é de um coração dentro e fora do compasso 

Os braços voam imitando os pássaros

E os dedos escolhem no ar pérolas amontoadas


De longe parece um surto 

não fosse a extrema beleza desta arte

Impulsionada por gritos e guitarras

E pontuada por vozes que se espicham até o delírio


Pois o destino da dança exercida em palcos, casas e praças 

é atingir o impossível para criaturas datadas

O êxtase, que fica preso num gesto fulminante

Num rompante que ilumina a cena humana

E só a palavra sem raízes, adventícia, estranha

Poderá abraçar além da conta


Nei Duclós


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