4 de fevereiro de 2019

PROFUMO DI DONNA: OLHAR DE QUATRO SENTIDOS


Nei Duclós


Cego, o capitão Fausto Consolo (Vittorio Gasman, gênio) procura enxergar com os outros sentidos. O cheiro lhe informa sobre a presença da mulher, o paladar é a libação permanente do seu amargor, a audição lhe revela seus pares, os outros cegos a vibrar no chão as bengalas, o tato são as mãos que servem para servir-se do seu ajudante, o jovem recruta (Alessandro Momo, que morreu logo depois num acidente de moto) convocado para acompanhar o capitão de Turim a Nápoles, e também para ler o destino na mão da amada (Agostina Belli, lidíssima) , que o cego rejeita por não se sentir merecedor do amor que ela lhe devota.

Perfume de Mulher é um filme sobre as mãos. A mão direita está substituída por uma prótese, as mãos dos apertos solidários caem no vazio porque o capitão não vê, os tapas são para reafirmar a virilidade perdida em rostos desconhecidos e bater no pobre rapaz que o acompanha. As mãos servem para o abençoar, quando o primo padre atende seu pedido antes da viagem fatal, em que irá cometer um assassinato. Sem a visão, as mãos mostram toda a sua precariedade, o olfato é apenas um recurso sexual, o gosto se perde pelo excesso de bebida e a audição detecta pequenos gestos ao seu redor, mas e insuficiente para mostrar toda a grandeza e complexidade das situações.

Os sentidos restantes enlouquecem quando falta a visão, que é o fundamento do cinema. O capitão não enxerga, isso só é reservado aos que o acompanham. E ao espectador, nós, que vemos o drama do homem que perde sua pose e tem a sorte de contar com o amor para lhe dar o verdadeiro sentido da vida.

Grande filme,de 1974. O genial diretor Dino Risi ganhou Cannes em 1975, assim como Gassman. Ok, tem a refilmagem de 1992 com Al Pacino que todos preferem, mas não dá para comparar com essa obra italiana da Sétima Arte. Não discuto gosto, apenas coloco minha percepção na roda.


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