24 de setembro de 2016

FIAPO



Nei Duclós

Ficaste preso no tempo
como nos espinhos um lenço
que se desprendeu do corpo
que cruzava o deserto

Deixaste lá a pista, tu mesmo
que ninguém visita, memória
violenta que produz
o choro sem remédio

No fiapo de pano bate o vento
e o sol que cresta a fibra
não revela a passagem
da tua obra hoje oculta

Não pertences mais ao mundo
coração tão próximo e distante
ficaste na estação avulsa
de onde acenas

És o último alento no ninho
que um pássaro conduziu
reduzido a trapo no voo
que se esconde

Que vida nos reserva quando há
essa dor misturada à areia?
Talvez nasça um fruto no futuro
comum que a raiz contempla


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