29 de dezembro de 2014

CORAÇÃO DE LÃ



Nei Duclós

Teu aceno é como achar a ponta do novelo misturado às urzes. A mão vai direto ao ponto, e puxa para desfiar teu coração de lã.

Voltaste, flor ausente. Por um segundo, suficiente.

Todos os versos são para ti, desperdício.

Não terei glória, terei abrigo. Casa ao pé da montanha, tetos de madressilvas

Sou instrumento da arte que despertas em minha área. Artífice do amanhecer, flor de oculta aurora.

O poema é caprichoso. Só se revela quando afagas seu dorso. É quando a fera ruge a palavra sincera.

Vem do fundo o amor que negamos.Como vulcão extinto que escuta o chamado de um pássaro de luz dourada.

Foi tarde demais, mas achei cedo. Estava aguardando mais uma porção de eternidade quando então ruflaste as asas de pálida fada

Amor, antes que me esqueça. Amor, antes que feneça. Amor, sempre que floresça.

Desviaste o olhar dos alfarrábios para ver se ainda Cupido continuava com as artimanhas. Ele estava dormindo, depois de jogar a seta barulhenta para meu coração de lata.

Notaste a sombra que faço sobre tuas pétalas? É que cresci na distância, jardim de plantas raras.

Te espero até a primavera, se for necessário. Eu aguento, flor que hiberna

Depois de me cavalgar, sumiste pela neve e me deixaste em casa, Lady Godiva

As coisas me ocorrem quando baixo a guarda, penso em outra coisa. Assim abre-se a margem para a palavra que estava de tocaia, não se sabe aonde.

Todos na aldeia sabiam dos motivos da sua fuga. Por isso o olhavam com a expressão crua.

A falta de fé se apropria da vida por decreto. Põe data na alma sem época

Não quero mais falar esta língua que nunca aprendi direito, disse o exilado. Quero voltar ao nascimento da minha palavra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário