16 de julho de 2012

CACHECOL

Nei Duclós

Pus teu coração dentro do meu. Se quiseres de volta, só se eu devolver os dois juntos.

Pampa e mar, és cachecol e convés, rebanho de ondas em teu olhar.

Voltas sem me dizer quando. Como se não tivesses ido, disfarce.

Perguntaram o que eu fazia com aquele enorme coração vermelho. Ganhei de presente, expliquei. Agora só falta ela dizer que me ama.

Viajaste assim como quem vai na esquina. Como se fosse possível viver sem alcançar teu ombro.

Silencias quando me declaro. Nosso amor existe nos intervalos.

Não digo mais eu te amo. Não mereço pegar fila.

Aprendi a viver sem ti. Pode sumir, que eu não ligo. Depois não venha dizer que sente falta. Sente nada, impossível.

Sabes o que provocas, por isso ficas toda prosa, deixando a poesia de lado, melindrosa.

Tudo voou, inclusive a possibilidade da tua vinda. O inverno estabelece seus domínios.

Musa não assumida, permanente fuga. Desisti de te alcançar. Só a poesia insiste em lembrar tua curva, a que me enlaçou um dia.

Exerces um poder sem sentido. O que provas com tua armadura? Apenas despedício do mel encruado no arrepio da tua cintura

Qual seu objetivo com tantos versos? perguntou o torturador. Derrubar teu discurso, disse o poeta.

Sexta-feira é o melhor dia da semana, pois tem perspectivas. É como chegar no mirante de onde tudo se descortina e a esperança se debruça.

Faz de conta que não nos amamos. Como foi de passeio, bem? Ah, muito bem e você? Certo, agora veja eu me desmanchando.



RETORNO - Imagem desta edição: Greer Garson.