26 de junho de 2009

IRÃ E MICHAEL JACKSON FORÇAM MUDANÇA DE PARADIGMA


Nei Duclós

O furo de um site de fofocas, TMZ, sobre a morte de Michael Jackson espalhou-se pelo twitter e colocou em polvorosa o noticiário tradicional da TV, que enfim teve que engolir a nova realidade. A Globo ficou completamente atazanada com as versões em conflito, ou melhor, o furo na rede e a falta da confirmação oficial. Enquanto o Los Angeles Times mancheteava com o desfecho, a CNN ainda tinha dúvidas e isso causou o desconforto global, visível nos apresentadores e repórteres, nas chamadas antes do Jornal Nacional e até mesmo no seu início.

Quando enfim o hospital se manifestou, William Bonner pôde fazer o anúncio. Acontece que todo mundo é mídia e fatalmente alguém ou várias pessoas no miolo do drama dispunham da ferramenta twitter para jogar o fato na rede. “Expulsem os correspondentes” diz o aitaolá, numa charge, ao que outro replica, apontando a multidão com celulares: “Mas todos são correspondentes”. A rebelião do Irã é um fenômeno de massa que repercute e é alimentado pelo twitter e o you tube, ferramentas on line de interação instantânea de massa.

No Jornal da Globo, com William Waack, a Globo se refez e conseguiu colocar no ar uma boa edição especial sobre o ídolo, mesmo com alguns atrapalhos, previsíveis, no percurso. Pela primeira vez vi a Globo abordar a internet sem a aura da vilania habitual, pois Waack citou o Google! Escutei pela primeira vez no noticiário da TV a palavra “ocorrrências” da ferramenta de busca. Sinal que a indiferença, a empáfia, a soberba, a auto-suficiência da mídia tradicional começam a fazer água diante da avalanche da internet. No Brasil, somos 62 milhões de internautas. Não tem como ignorar mais. Não tem como chamar de “novas mídias” uma realidade que existe há mais de dez anos. Uma década depois, com os jornais indo para as picas, a TV perdendo audiência, soa babaca demais as noticinhas engravatadas abordando a rede como se fosse um brinquedo, uma ameaça ou algo sem importância.

A mudança de paradigma já ocorreu, mas ela estava sendo jogada para baixo do tapete. Nem mesmo as ameaças econômicas (jornalões fechando) tiraram a mídia tradicional do seu pedestal. Foi a revolta do Irã e a morte de Michael Jackson, dois eventos inesperados, que forçaram o reconhecimento de que vivemos agora numa nova realidade e todos precisam se adaptar. Não apenas os que se refugiaram na situação alienada das televisões e veículos impressos, mas também os blogueiros, saiteiros, orkuteiros e facebookeiros. O microblog chegou arrasando e criou uma nova dinâmica na geração e difusão de noticias, enfeixando vários eventos, desde a manifestação de rua até os funerais de um ídolo.

Isso não significa que está tudo obsoleto. Não canso de repetir: tudo existe simultaneamente e todas as soluções tem chances de sobreviver. Rádio, TV, revista jornal, nada disso vai morrer. O que morre é um jeito ultrapassado de fazer radio, TV, revista, jornal.

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