18 de junho de 2009

DIPLOMA DE JORNALISTA SERÁ VALORIZADO


Nei Duclós

Há uma explosão indignada contra o STF, que extinguiu a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo. Gente dizendo que vai pedir indenização, que se sente ludibriada, acusando os ministros togados de irresponsabilidade, que vai jogar o diploma no fundo do armário, doar para museu etc. São reações naturais, mas é uma pena que a fúria substitua a razão. Acho que vai acontecer exatamente o contrário: o diploma será enfim valorizado. Vou dizer porquê.

Primeiro, acaba a fabriqueta de faculdades de comunicação. A obrigatoriedade serviu para que proliferassem inúmeras instituições voltadas para o ganho fácil dos seus donos, oferecendo uma formação ineficiente. O que garantia o negócio era o diploma obrigatório, passaporte para uma atividade reconhecida e remunerada. Haverá um natural enxugamento e sobreviverão apenas aquelas que realmente estão preparadas para formar jornalistas. É hora de o governo intensificar os investimentos nas boas faculdades do ramo, como a da UFSC aqui de Florianópolis e, acredito, a ECA da USP.

Pois os empregadores vão valorizar os diplomados num sistema enxuto e altamente qualificado, já que o fim da obrigatoriedade vai dispersar os aventureiros, ou seja, os fabricantes de diplomas fajutos. Lembro que fui editor de focas que jamais tinham lido um livro. Mas também de recém formados no rumo da erudição, preparadíssimos. Tudo depende da instituição séria, que sairá fortalecida.

Ao contrário do que todos temem, não haverá um avanço de aventureiros na carreira. Trata-se de um trabalho complicado, que depende de vocação, de preparo. Exige fôlego, determinação, dedicação. Não é qualquer um que passa na peneira. Quem tem formação específica poderá se impor, se sobressair. Acho que aventureiros existiam até agora. Havia muito burro diplomado. Gente despreparada, de canudo na mão, tirava o lugar de outras pessoas, inclusive diplomados.

Não se trata de otimismo a qualquer preço. O jornalismo passa por uma fase decisiva. O que está sendo ameaçado no jornalismo não é sua essência, mas seus equívocos. Acredito que o jornalismo como gênero (sério) literário voltará com tudo. Acho que o jornalismo de mãos dadas com a formação acadêmica tradicional, como história, economia, engenharia, nos ajudará a dar novos saltos. O que pega agora é competência e isso uma boa faculdade pode proporcionar.

Então, meus queridos alunos, professores, colegas: nada de pânico. O STF prestou um serviço, não porque tenha clareza sobre tudo isso, mas porque foi o instrumento para uma atividade que será valorizada. Ter diploma de jornalista, de agora em diante, será para valer. Quem vai querer passar por esse crivo para um nicho que não exige diploma? Só mesmo nós, os ursos que jamais se extinguem.

Eu deixei os bancos escolares do jornalismo quando ele era apenas um curso, que foi ferido de morte em 1968, no AI-5. Era ruim e ficou pior com a repressão. Não achei ético continuar. Acabei me formando em História. Mas se tivesse 18 anos, iria prestar vestibular para jornalista. Como eu fiz, quando tinha 19 anos e ninguém valorizava essa formação acadêmica, ainda no seu início.

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