1 de maio de 2005

O REINO DA MENTIRA



Lula foi para a televisão falar sobre o Primeiro de Maio, colocando-se como paradigma de tudo: de trabalhador, de presidente, de rei da cocada preta. É tudo mentira, claro. Lula é o produto de uma ilusão da esquerda, que no lugar de assumir o poder ganhando as eleições, jogou todas as fichas numa alegoria, numa ficção, o operário como símbolo do proletariado que ascende à presidência. Lula tem origem popular e foi liderança legítima do movimento sindical, mas, sabemos agora, sempre representou uma casta de privilegiados. Primeiro, os próprios metalúrgicos do ABC, operários de classe média, que nas multinacionais conseguiram dobrar o patronato por algum tempo até sucatear totalmente o movimento sindical. Ao fundar um partido, Lula passou-se para o estamento político e ao assumir a presidência, para o estamento econômico. Não representa mais trabalhador nenhum, nem mesmo os votos que recebeu quando houve a maré alta da insatisfação popular contra a entrega do país na era FHC. Hoje pensa apenas em manter-se na cadeira, tanto é que acenou com um prazo longo para resolver os problemas do país. É sintomático que as falas de Lula sejam gerenciadas pelo mentidor-mór, Duda Mendonça, o contraventor do galo de rinha e que mentiu até o osso à população ao levar mais de uma vez Maluf, a direita, ao poder e à chave dos cofres públicos. A esquerda oficial, personalizada em José Genoino e José Dirceu, pegou carona e hoje se locupleta no estamento, onde dão as cartas graças aos acordos em Washington com os abutres do Império. A esquerda fez um arreglo de elites e assumiu o governo para desmoralizar o povo que votou nela. Abriram assim caminho novamente para a extrema direita, que já bate o punho na mesa exigindo voltar. Não basta aos fascistas o poder de fato. Precisam da cadeira. Para isso, preparam o incompetente e esdrúxulo César Maia, o governador de um estado em guerra permanente.

DITADURA - Os dois milhões e meio de subempregos de carteira assinada é um dos orgulhos dessa canalha. O povo serve para ser copeiro, arrumadeira, segurança, faxineira, ou então exercer funções mais qualificadas com salários escorchantes. O grosso da dinheirama vai para o próprio estamento e a pirataria internacional (sendo o primeiro caixa dois do segundo). Não há liberdade no país. Não existe possibilidade de confronto. Há corrupção em todos os níveis. Exportamos a proteína que deveria ir para a população. Oferecemos as mulheres do país para a tesão internacional. Endividamos os aposentados até a terceira vida. Expropriamos empresas e pessoas com juros assassinos. Nada foi feito na infraestrutura, enquanto os pedágios se espalham como praga. Há ódio generalizado, assassinatos em série, suicídio em massa. As pessoas não se respeitam, se batem e se acotovelam em todas as ruas e coletivos. A sacanagem cínica da pseudo-modernidade capitalista assoma em todos os recantos profissionais, enquanto as ongs levam grana para dedéu oferecendo serviços terceirizados. Tem um tal de Instituto Candango de Solidariedade que assumiu todos os serviços básicos no Distrito Federal. Está sob suspeita pelo Ministério Público. Uma ong com esse nome deve ser fechada imediatamente. Não pode haver tanto cinismo. Na mídia, a ditadura é total. Ontem, sábado, quem estava na TV? O cantor Daniel, o outro Alexandre Pires, sempre eles, jamais há espaço algum para o talento. Crianças vestidas com roupas insinuantes rebolam em frente às câmaras. Ninguém faz nada, ninguém diz nada. Os medíocres tomaram de assalto o país e perpetram crimes sem parar, enquanto a inteligência nacional está muda e em desconstrução absoluta. Dizíamos em 1968, devemos repetir agora: Abaixo a ditadura e fora o imperialismo. Ainda vale e não é saudosismo, infelizmente.

MOEDINHAS - Num feriado desses, encontrei uma padaria aberta. Estava cheia de gente, todos com moedinhas na mão, comprando pãozinho de trigo (que aumentou de preço). É o que resta a fazer às famílias despossuídas. Não plantamos trigo, artigo de primeira necessidade, importamos trigo. Plantamos soja, para alimentar porcos na Europa e na China. Somos uma nação de idiotas, totalmente divididos em nossos espacinhos agonizantes. Severino é o Cacareco, o rinoceronte do zôo dos anos 50, eleito, e a música do Cacareco serve para o Ratinho, que colocou outra letra (?) na melodia. Só se escuta bomba. As novelas ensinam grupos de garotas a estar sempre disponíveis para a gravidez precoce. Chamam isso de luta contra os preconceitos. Nos 40 anos da Globo, não há uma só linha sobre a literatura. O ex-poeta Pedro Bial imita Billy Cristal na noite de gala do monopólio global e tenta nos convencer que Roberto Marinho foi um vanguardista, quando no fundo serviu de vitrine para a venda total do país. Quando havia vida inteligente na Abril e no JB, não deixaram essas empresas terem redes de televisão. Deram para o bispo Macedo (que envenena os telespectadores pobres na madrugada), para o Silvio Santos (Gargalhada, o Palhaço Sinistro), para os Saad (Gilberto Barros em todos os horários). Propaganda do começo ao fim. Estamos presos, vendo o sol quadrado, enquanto o talento brasileiro se esvai numa tristeza sem fim. A internet é muito fraca perto da televisão aberta, hegemônica em todo o país. Não há oposição, há apenas o deserto. Toque aquela velha canção, aquela inédita que você fez há vinte anos e ninguém deixou vir à tona. Toque, Sam, quem sabe o milagre se repete.

RETORNO - 1.Inconformado com as traduções de tango que coloquei aqui, meu irmão Elo Ortiz Duclós indica um site primoroso sobre o assunto. 2. Luciano Dutra surpreende nos comentários escrevendo sobre a Islândia e, no seu blogue, mata a pau com maravilhosos sonetos. 3 Brutal, poético, terminal: a semente do talento e da coragem num texto definitivo de Urariano Mota sobre uma geração que tardiamente encontra a lucidez.

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