2 de maio de 2005

A NOVA DIREITA NA FALSA DEMOCRACIA




A direita usurpou a necessidade de democracia no Brasil criando um sistema que é a consolidação do regime de 64: governo que legisla por medidas provisórias, dívida externa crescente e impagável, entrega da soberania (estatais, subsolo, nações estrangeiras implantadas na fronteira como a recente reserva da Raposa, nome muito apropriado). E as eleições? Isso qualquer Duda Mendonça dá um jeito. A mídia sufocada pela má gestão, totalmente vinculada ao poder de plantão, monopolista e medíocre, manipula como quer (ou é mandada) o voto eletrônico. Nesse sistema, é preciso que a direita se identifique também com o pensamento dito esclarecido. Para isso existem alguns luminares: Elio Gaspari, que puxa as orelhas do estamento (representando assim a Garganta Profunda do poder de fato que paira acima das instituições), difundindo informações de cocheira para enquadrar a política no rigor que admira desde a era Geisel, e ao mesmo tempo faz o histórico adequado do regime de exceção; Boris Casoy, que encarna o moralismo reacionário sempre alerta em relação a qualquer deslize do que chamam de democracia mas no fundo é ditadura; Alexandre Garcia, com seu tom de admoestação ultradireitista, que ocupa espaços do noticiário televisivo com seu cinismo, confundido com independência de opinião. Para a massa, há o Faustão, que ensina o povo a respeitar as nulidades, debochando dos brasileiros pobres com o Se Vira nos 30 e dos telespectadores com as cacetadas, destacando no seu programa infindável os artistas que fazem parte da anulação cultural, incluindo aí os de muito talento e nenhuma responsabilidade política.

ZAP - Ou estou muito enganado (pois zapeio a toda hora) ou Fernanda Montenegro defendeu ontem a tutela americana na América Central. Posso estar errado, mas foi isso que eu ouvi, enquanto fugia mais uma vez do Faustão. Os americanos são uns fofinhos. Vejam a senhora Bush fazendo gracinhas diante de uma platéia de puxa-sacos enquanto o maridão gargalha sinistramente seu sorriso doentio. Vejam o que fizeram com o Mercosul: usaram o banana do Lula para recriar o clima de hostilidade entre Brasil e Argentina, e assim preparar o caminho para a Alca (que seria a solução, como lembrou candidamente Alexandre Garcia no programa matinal Bom Dia, Imbecil). A sra. Rice dizer que somos os líderes da América Latina é de uma sacanagem sem fim. O Sancho Pança acreditou que está abafando. Kirchner queixa-se da nossa interferência desastrada na crise da Guatemala, na ambição brasileira de ocupar cargos importantes em organismos internacionais, da total subserviência que aceitamos do FMI, apesar de o presidente dizer que estamos caminhando por nossas próprias pernas (devendo o PIB para os banqueiros?). A nova direita erradicou primeiro os militares e depois excrescências como Paulo Maluf. Procura um Collor para ocupar o Planalto. Era Aécio, agora é César Maia. Daqui a pouco poderá ser outro. Se não encontrar, um Lula serve. Fica mais difícil repartir o butim, mas é sempre melhor do que um presidente de verdade, alguém identificado com as conquistas populares, como aconteceu com o trabalhismo, hoje desmoralizado por coisas como o PTB e neutralizado pelo excesso de acordos que o PDT faz nas eleições.

TREINAMENTO - Vejam como funciona o domingo na Globo. As cacetadas representam a incompetência dos telespectadores para a dança, o malabarismo, o exercício, a atuação, a arte. Não se meta a fazer coisas, você não serve para agir, mas para consumir. Por isso Faustão tem o tom didático, que finge ser politicamente correto, ensinando o povo como deve se comportar a partir dos exemplos que destaca e rolando de rir em cima de cenas desastradas de pessoas comuns, ou seja, da população. Depois vem o Fantástico, que é a prova da competência da Globo em contraposição à ineficácia do telespectador revelada nas cacetadas (esquema reforçado por inúmeras entrevistas na rua, onde só ouvimos abobrinhas selecionadas, pontuadas por expressões como com certeza). Depois vem o programinha Sob Nova Direção, das duas mulheres que correm atrás de homem, para reforçar o recado de que o povo deve estar sempre disponível para o sexo sem compromisso, a superficialidade e o vazio. Enfim chega a vez do Domingo Maior, que é sempre um filme para assustar quem ainda não foi para cama. Isso deixa o telespectador pronto para a semana de trabalho e de escravidão que recomeça. O programa de auditório, que se espalhou como praga por todas as redes de TV, faz parte do processo. O auditório é a população submetida e que funciona como claque. Num auditório de TV não há vaia. Vejam como tem de sobra: Faustão, Raul Gil, Gilberto Barros, Serginho Groissman, Silvio Santos, Gugu e por aí vai, numa seqüência sem fim. É preciso ensinar o povo a se comportar na ditadura. É preciso afastá-la da opinião dos estudiosos, dos corajosos, dos espíritos livres, dos artistas de verdade com responsabilidade política.

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