28 de abril de 2005

O BRASIL DÁ ADEUS COM ROMÁRIO




O Brasil soberano despediu-se ontem no Pacaembu quando Romário deu a volta olímpica chorando, enquanto o público aplaudia friamente. São Paulo não sintetiza o Brasil, mas o Rio sim. Deveria ter sido no Maracanã, mas esvaziar a verdadeira capital do país faz parte do sucateamento da soberania. O estádio transformou-se num imenso programa de auditório manipulado pela Globo (40 anos de ditadura). Na IstoÉ desta semana, há uma denúncia de Diogo, irmão do diretor do BBB, Boninho, ambos filhos do papa da manipulação das consciências a serviço da entrega do país, o Boni. Diogo entrega que o BBB5 foi uma Operação Fantoche, que Jean já sabia que iria vencer e que fazia parte da oficina dos atores da Globo desde 2002 e que tivera um caso com o diretor Wolf Maia. A Globo precisa de oposição. Sua holding, a Globopar, segundo Ana Paula Padrão no JG, deve 1 bilhão e 300 milhões de reais. A Globo precisa ser libertada de seu autismo, de sua própria armadilha. Os globais pagando mico em frente às câmaras, pulando como escravos para agradar os patrões, é o retrato do Brasil à mercê da ausência de estado, em que a privatização se faz na vida pública, na História, na mídia. É um Deus nos acuda de horrores que precisa acabar.

HINO - Escolher a Guatemala como adversária faz parte da manipulação. Deveria ser a Holanda, onde Romário começou sua carreira no Exterior e que tem uma cisma conosco. No mínimo seria um jogaço. Ou a Espanha, onde ficou tantos anos. Assim mesmo, foi bom escutar o hino da Guatemala, que fala de soberania, de expulsar os inimigos que tentam invadir o país, e de derrubar os tiranos. É um hino absolutamente guerreiro. Escutando o nosso hino, descubro tardiamente que há uma ambigüidade: o poeta Osório fala em teus risonhos lindos campos, e logo depois em nossos bosques. Ou seja, trata o Brasil como algo fora do narrador do poema e depois assume, coletivamente, o mesmo sujeito que estava fora do tratamento. Significa que temos uma relação complicada com o nosso país, que o vemos fora de nós e ao mesmo tempo dentro de nós? Talvez esse seja um sinal do hábito que temos de nos referir aos nascidos no Brasil como gente fora de nós. O brasileiro, disse Lula recentemente na sua desastrada fala sobre os juros. O brasileiro são os outros, o País está aí para ser usufruído por estrangeiros, é por isso que somos japoneses, alemães, italianos, espanhóis, portugueses, chineses, catarinas, gaúchos, paulistas, baianos, nordestinos, mas jamais brasileiros. Os teus bosques têm mais vida?

CONTRATO - O bom foi ver jogadores diferentes na seleção. É um alívio sonhar por noventa minutos que o contrato vigente entre Roberto Carlos e a CBF ficou de lado. O contrato reza que ele ganhará pela quantidade de chutes na barreira, é por isso que ele sempre chuta as faltas e sempre acerta a barreira (e sai com aquela pose de grande jogador). Livrar-nos de Cafu (são inúmeros Cafus, eles se revezam e ficarão no poder mil anos), do Roque Junior, do Emerson, é uma utopia. A seleção deve ter craques revelados nos campeonatos estaduais, na Copa do Brasil e no Brasileirão. Não pode ter cadeira cativa ocupada por estrangeiros que não estão mais acostumados a jogar no calor. Lembra a piada do rastilho. O guri do interior foi finalmente para a capital, depois de muito insistir e lá ficou por um ano. Voltou e desconhecia tudo. O que é isso? dizia, esnobe, apontando o rastilho. Ao pisar sem querer na ferramenta, que veio com tudo na sua cara, gritou: Ô rastilho filho da puta! É a mesma coisa. Só jogam no frio? Parem com isso.

VÔO- Romário despediu-se dos jogos no Exterior, e da seleção, mas não dos gramados. Jamais se aposentará. Ficará para sempre, fazendo gols até não poder mais. Vai ultrapassar Pelé. Jogará até os cem anos. O dia está glorioso, dirá, caquético. Vamos jogar futebol. E lá vai ele com as pernas tortas, diante de uma platéia pasma, ele, o imortal craque do Brasil soberano, o cara que veio de longe nos salvar nas eliminatórias de 93 e nos devolveu a Copa do Mundo (e a auto-estima) no ano seguinte, conforme profetizou. Mas quando Romário tiver cem anos, não existirá mais o Brasil. Ele será a memória do país que se foi e que se despediu uma bela noite, em que o estádio virou um programa de auditório. A soberania foi para baixo do tapete, mas Romário foi lá embaixo e pegou-a com a mão como se pega uma pomba. Voa, meu país querido, disse ele, e o Brasil voou para a eternidade.

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