3 de outubro de 2003

A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO


Hoje é dia de comemorar a revolução de 3 de outubro de 1930, um evento riquíssimo da historiografia brasileira, que gerou livros seminais que devem ser lidos urgentemente. Um divisor de águas com reflexos diretos e indiretos na mídia até hoje e um espaço de disputa política que envolve no mínimo dois partidos (PDT e PTB) e uma massa poderosa de votos. Isso significa que todas as tentativas de erradicar a revolução de 30 da memória brasileira foram em vão.

O NOVO DIP – O assunto é "agigantamento do noticiário oficial" , denúncia dos jornalões contra o que eles chamam de o Departamento de Imprensa e Propaganda da era Vargas adaptado ao século 21. O presidente Vargas hoje é o papel higiênico da ignorância histórica. Costuma-se vê-lo como um personagem sem nuances, um ditadorzinho qualquer, uma espécie de caudilho latino-americano. Qualquer problema que exista no País é coisa do Getúlio. Se o PT erra, é porque está imitando o Vargas, não porque esteja errando por conta própria (e como erra!). A CLT do Getúlio, todos sabem, é obsoleta (estão gostando da terceirização? voltamos à República Velha, quando não havia férias, nem jornada de oito horas e quando as crianças trabalhavam sem parar?). O jornalista, antes de embarcar em canoas furadas, precisa estudar História. Existem vários Vargas, dois deles eleitos pelo voto. Em 1934 ele assumiu a presidência eleito pela Assembléia Constituinte e em 1950 ele deu um a lavada gigantesca de voto popular nas urnas. Como “ditador” existem outros dois momentos: quando assumiu o governo provisório em novembro de 1930, depois da revolução vitoriosa (que teve intensa participação do povo, inclusive pegando em armas, como aconteceu no Rio Grande do Sul) e em 1937, com o golpe do Estado Novo, quando continuou no poder amparado pelas Forças Armadas. Ou seja, existem muitas mudanças numa trajetória de 25 anos (interrompida com o suicídio em 1954, quando o povo saiu às ruas quebrando tudo, como aconteceu no Rio de Janeiro e em Porto Alegre).

RESPOSTA EM ITENS – Quanto à traição petista de encher de dinheiro seus marketeiros, enquanto o desemprego e a violência avançam, devo compartilhar com a preocupação, mas também defender a necessidade de uma intervenção do Estado na atual situação caótica da mídia, palco de grandes crises e instabilidade permanente, em que meia dúzia de gigantes fazem o que bem entendem (inclusive tentando destruir o jornalismo de bairro com encartes ridículos que só servem para dar malhos regionais). Acho o seguinte:
1. Só os grandes grupos privados, as famílias tradicionais, a máfia internacional e os aventureiros podem concentrar mídia nas mãos. O governo não pode, a mídia proíbe.
2. A fase de ouro do rádio brasileiro coincide com a maciça presença estatal na radiofusão.
3. A Ultima Hora, jornal subsidiado pelo governo, provocou uma revolução na imprensa brasileira que a era Collor-FHC ajudou a enterrar.
4. O subsídio governamental deve servir para regular a televisão (sim, regular, impedir por exemplo que eles interrompam a programação a cada dois minutos com intervalos comerciais de 10 minutos, onde veiculam basicamente mídia interna, ou seja, propaganda dos programetes deles – principalmente nas emissoras da TV a cabo, que é paga!); colocar de volta a música de qualidade na rádio e televisão, interrompendo o execrável ciclo hegemônico dos chororões daniéis alexandrespires (que chorou ontem nos braços do Bush, que vergonha, meu Deus) e tchans (a genitália rebolante 24 horas por dia); e ajudar a criar mais concorrência nos quadros jornalísticos, valorizando o talento e obrigando os jornalões e revistonas a pagar melhor e contratar mais gente competente para poder peitar a máquina estatal.
6. Subsidiar a mídia não quer dizer obrigatoriamente criar notícias favoráveis, mas contribuir para criar um ambiente mais competente no noticiário e na programação (desde que seja uma política orientada pela ética).

LIVROS - Precisam ser lidos, no mínimo: Outubro, 1930, de Virgílio de Melo Franco; A Verdade Sobre a Revolução de Outubro, de Barbosa Lima Sobrinho; A Revolução de 30, de Boris Fausto; e Oswaldo Aranha, de Stanley Hilton. Para quem gosta de Uruguaiana (e quem não gosta?), entende-se melhor a revolução de 30 lendo Lusardo, o Último Caudilho, um livro de História do Brasil do século 20 escrita pelo talento e a competência desse jornalista fantástico que é Glauco Carneiro. O livro (em dois volumes, sendo o primeiro uma obra-prima) de Glauco foi minha introdução à História que as escolas escondiam.

RETORNO - Já me aconselharam a baixar a bola aqui na coluna e não emitir tanta crítica, mas normalmente não consigo evitar. Amanhã volto à poesia e às técnicas jornalísticas. Hoje eu estava comemorando a revolução de 30, que teve a participação de um soldado de apenas 18 anos. Esse soldado passou a vida contando histórias da revolução vitoriosa e posso garantir, pelo seu relato: correu bala como nunca. Não foi um passeio. Ele se chama Ello Ortiz Duclós, meu pai. Devo-lhe a minha vida.

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