24 de novembro de 2024

NÃO CABIAS NO MAR

 Nei Duclós 


Não cabias no mar, luz do espanto. Todas as palavras sumiram com teu lance em direção a mim, coral submerso.


Querias aventura, só tenho sentimento. Talvez aprenda um dia a viagem do coração que finge indiferença.


Bateste o sapato na varanda. Tinhas ido ao pântano conversar com pássaros. Trouxeste um novo canto, que assobias no meu ouvido.


Perdoa o amor que dividimos. Não sei onde estávamos com a cabeça. Talvez no lugar mais perigoso, o coração.


Éramos dois, agora somos um. Ninguém diferencia rostos que se beijam.


Quando a Lua cheia se foi, deixou um rasgo no céu que tento consertar pondo o curativo do teu sonho.


O amor é uma experiência.

Depois passa. Dá lugar à auto-suficiência. É quando rimos dos sonetos e das frases românticas. E voltamos a ser a estalar os dedos. Até sangrarem noite adentro. 

 

Quando consentes posso ver, disse ele. Quando consinto, do verbo sentir, disse ela.


É bem vagarosa essa tua vontade de descer o que te protegia. Escaldada, talvez, de outros ritmos. Mas é possível que seja só o prazer de me ver te acompanhando até que tudo caia sobre o piso.


Demorei porque precisava reciclar minhas torres de marfim, arrumá-las para te receber. Agora sim, cruze a casa com tua saída de banho.


O céu é o piso da Lua. Cada lugar tem seu forro. A praia é para onde o sol se esconde atrás do morro.


Fazer poesia é fácil. Basta enfileirar algumas palavras. É como matar formigas. 


Nei Duclós

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