3 de fevereiro de 2023

DESABAFO

 Nei Duclós 


Não me importa  a carreira literária 

Participar de eventos, feiras, palestras

Já corri atrás e deu  em nada

Um autor está só, como casa no deserto


Achei que poderia somar  com meus pares

Mas estão ocupados em tardes de autógrafos 

Viagens ao exterior, prêmios, virtudes

Todos são do bem, apesar das vaidades


Também não quero exercitar vanguardas

Ou pagar pau para poesia clássica 

Tenho meu jeito de escrever atrapalhado


Tudo será esquecido no tempo onde tudo morre


Deveria me dedicar a algum hobby da terceira idade

Cultivo de flores,  insultos  ou conselhos, uma espécie de padre

Ensinar como funciona a suprema arte

Levar tapinha nas costas, ser paparicado


Mas rosnar é da minha bruta natureza

Negar as ilusões da notoriedade

Suportar a artrite, a dermatite, a erisipela

Esperar o fim do verão e xingar o inverno


Não vim à terra a passeio

Quero a lucidez e a devoção dos santos

E teu pobre coração, beldade sem cuidados

Que desce em meu amor, único legado


Nei Duclós

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