9 de maio de 2021

MINHA MÃE

 Nei Duclós 


Minha mãe se foi cedo, aos 62

Para mim, que hoje sou dez anos mais velho

ela era uma anciã, de lentes grossas devido à catarata

E ficava em pé cada vez mais frágil

Nunca vi minha mãe  correndo

Andava devagar e a tudo observava

Parada e só como árvore isolada no pampa


Criou sete filhos, sendo quatro marmanjos que lhe deram trabalho

e cada um jura que era o favorito

Levava as gurias para os bailes e a todos encaminhava nos estudos


Lecionava multidões de alunos que iam dividir o café da tarde conosco

Só sei até o ginásio, dizia

E isso bastava


Tecia puloveres com mangas enormes pois cresciamos e a lã durava mais de um inverno


Decifrava charadas dos jornais usando dicionário Lello

E foi a primeira leitora das minhas poesias

Aos dez anos eu já era um intelectual e dizia para ela

Fiz um poema mas acho que tu não vai entender

Ela achava a maior graça e contava para as amigas


Foi assim que eu não sendo nada virei coisa

Pela mão de quem representava a divindade na terra


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