13 de junho de 2015

LIMITE DE ASSOMBRO



Nei Duclós

Furei o fundo, teu limite de assombro. Reduzi a pó as resistências do teu sonho.

Repeti os versos na esperança de trazer o tempo de volta. Mas ele se foi, junto com o sentimento.

Dê de comer aos versos, disse ela para o vento.

Apago o que te digo, não para esquecer-me, mas para voltar ao início.

O que desenhas, destino?

Meus versos favoritos são os que você curte.

Só se você quiser haverá querer. O amor não mora na solidão.

Publiquei há tempos o que repito agora. Tinhas esquecido, orvalho antes da aurora.

Não falei para ninguém o estrago que fizemos juntos. Por isso desliguei a luz logo que anoiteceu.

Esses versos esparsos não levam a nada. São apenas o forro de flor que suporta a Terra.

Metade de mim é invisível.

Quer cedo o que tardou demais.

Fale de ti e ninguém te escuta. Fale de amor e serás o rei.

Não quero mais nada, vou jogar tudo fora. Os móveis, a memória. Vou morar na última gota d´água antes que evapore

Faço versos malvados para que te invoques. Quando me socorres fico rindo de felicidade.

Já estava de saída quando amanheci. Era tua mancha de batom no branco da camisa.

Há uma explicação para esses casamentos intermináveis. O amor acostuma.

Sonhas comigo mas disfarças. Dizes que o desejo não tem endereço. Pele ardente de suprema fada. Sou eu que recebo a carta.

Qualquer espaço serve para o desconforto das palavras emitidas sem motivo. Isso diminui a margem do gesto amoroso

Falei em desejo mas estamos distantes. Ela se recolheu. A palavra dói quando não há remédio.

Não dás a mínima para as maledicências. Tens essa vocação de majestade

Tentaram te torcer à força, mas só comigo rodopias por vontade.

Fazem pouco de mim porque joguei fora todas as oportunidades. Por isso caem de quatro quando apareço de supresa com você ao lado.

Tive sorte ao te colher de mansinho. Poderia ter dado tudo errado. Mas permaneceste imóvel até o fim, quando enfim te derretias.

Inacessível, indisponível. O amor não encontra brecha em tuas cortinas. Vitrine fechada com portas de aço. Faço plantão na calçada, beleza impossível.

Na penumbra nos reconhecemos. Éramos neblina que um raio de sol misturado ao pó amanheceu.

Acordo antes da hora para surpreender o tempo.
Tirei tuas medidas com a fita métrica do meu olhar.

Sou uma versão piorada de mim mesmo.

O que é contemporâneo não tem valor. Só o tempo - a distância sem remédio - decreta o sagrado

Namoro tem dia certo. Amanhece no flerte e deita no êxtase.

Amor é encaixe na agenda. Chega de surpresa e toma conta da tarde.

Mãos dadas estabelecem o circuito. Flui o desejo em estado latente.

Houve impacto no primeiro beijo. A língua entrou sem convite

Namoro é quando a solidão dá um tempo.

Namoro substitui o poema. Por isso escreves, ilha de açucenas.

Ganhei você de presente. Estavas moída pela viagem no deserto.

Esqueci meu coração nas tuas cobertas. Vê se me liga, ilha deserta.

Fui reduzindo o verso até chegar ao mínimo: em vez do silêncio, teu grito

O inverno se aproxima do amor ao relento.

Prendi o pulso no vento. Carrega-me, sopro violento.




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