23 de setembro de 2014

PAÍS PARTIDO



Nei Duclós

Vestir-se de ódio decide eleição?
O país está partido para sempre.
País perdido, cindido. Está morto?
Toco seu rosto: ele é de pedra
Toco seu corpo: ele ainda sangra
Mexo em sua infância e ele chama
voz insubstituível no tempo roto

Fujo disso e não chego na esquina
sou alcançado pelas cobranças
peço silêncio e todo mundo grita
doer faz parte da sobrevivência
Qual é o seu lado? dizem de frente
O passado nos conduz em correntes
Não temos futuro, obra do presente

O candidato sorri mas apenas mente
o exercício do cargo é inadimplente
bandeiras por vinte reais o expediente
ataques promovidos pela cor da pele
Que é do coração e do poder da mente?
Viramos a sombra de um jogo demente
rimamos o pó com a esperança poente

É o pessimismo, me dizem radiantes
tenha fé que não sei quem te ama
seja correto na transgressão reinante
cumpra deveres na criminosa semana
depois no domingo dance seu tango
Não tenho estômago para o convite
Nasci para outro país que eu invento


RETORNO - Imagem desta edição: foto LIFE, São Paulo em 1947.


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