9 de abril de 2013

ESCUTO O MAR



Nei Duclós

Escuto o mar. Não são palavras
que sobem do convés até a gávea
nem coro de gaivotas, praga de praia
ou canto de sereia, funda odisseia

Nem temporais que urram pelo mapa
ou velas esgarçadas pelo uso
peixe que salta em fuga de si mesmo
abordagem pirata em voo cego

Talvez nem seja som, truque do vento
articulado no pico de vulcões extintos
ou as parábolas de navios submersos

Vem de dentro o que ouço no silêncio
algo maior, cordão ligado à literatura
tábuas da profecia descendo o monte


RETORNO – Imagem desta edição: obra de Gauguin.