21 de março de 2013

VELA DE SONHO



Nei Duclós

Agora venta, vela de sonho. Me leva onde possa ver-te.

Sobrevivemos ao naufrágio. Guarde os sinais em busca de socorro. Quero ter certeza que estamos perdidos.

Aos poucos os navios voltam. Só tu,amor intenso, partiu para sempre.

Não posso mostrar os ferimentos. Mascarei tudo com cicatrizes brandas. Não descosture, que sangra.

Mas é teu destino, distraída. Pisas como se o amor fosse inquebrável.

O problema é que abusas, cardume de espantos. Se ao menos tivesses piedade, não haveria tanto sofrimento.

Estive seco todo esse tempo. Bastou um pingo da tua onda para virar tsunami.

Fugimos do sonho mas ele nos alcança. Exaustos, nos depositamos no fundo do coração em chamas.

Cansei de dizer eu te amo. Agora fecho para balanço. Faça do meu silêncio o sentimento impregnado até a borda.

Março é quando o clima fecha o quarto, você puxa a coberta e sente falta de um céu sem nuvens no teto

Não podemos nos dizer o que o corpo fantasia. Fica esse calor prestes a virar incêndio.

Me colocaste na escola do amor. Depois vieram as férias.

Se você viveu um momento, ele continua lá, doendo. Nada apaga as três dimensões do pensamento.

Só dói quando eu me lembro.Por isso não nego a dor, para ficar inteiro.

Fui dormir mas não houve descanso. Sonhavas comigo, paixão mutante.

O frio chegou antes. Nosso corpo nem tinha ainda permanecido ao sol o suficiente. Agora estamos confinados novamente no calor que nos sustenta.

Escolhes meu poema na feira do universo. Colocas na bolsa e somes na escuridão do cosmo.

Colho a palavra escassa nas ruínas do oásis. Nenhum diamante. Apenas um baque surdo do teu corpo na areia. Cais de uma nuvem que não existe.

Asa quebrada, coração partido. Deixa que eu colo com minha decisão de não ir embora.



RETORNO - Imagem desta edição: A Fair Wind, obra de Winslow Homer, 1873-76.