7 de abril de 2012

SUBMERSA


Nei Duclós

Toco em ti como se mergulhasse. Falta ar, submersa.

Queres ser minha? Me tenha.

Contagem regressiva para o beijo. Aguarde um instante. Quando o relógio tocar, estarei dentro.

Devolvo o que recebo, elaborado pelo sonho da palavra.

Vieste mais para perto, gloriosa. Retomei teu corpo em minhas mãos exaustas. És o bálsamo do sábado.

Por que esperar a semana acabar para ler o que tenho a dizer? Leia agora no meu coração de fora.

Óleo de breu, luminosa. Rosto aberto, sombrio. Tudo é você, diversa.

Branquinha branquinha ruiva ruiva: cera que queima e escorre. Sedução.

Ganho de escala: teu beijo começa de manhã e nunca acaba.

Aprendi contigo, diversa. O que dizes faz parte de mim agora

Meu corpo se lembra, por isso te cerco. És demais para escapar entre meus dedos.

Deixou de ser poesia. É sussurro de sesta.

Quando me lês estou em ti. É quando me vês, saudosa.

Fique assim juntinha. Tenho muito quando estás comigo.

Deixei um só recado em meses. Tenho margem. Vê se posso.

Ela diz que some, mas não me deixa. Pode haver tesão maior?

Ela acha defeito em quem elogio. Aparece para bater na concorrência. Sumida, mas atenta.

Se sumisse para sempre seria o normal. Mas ressurge, como flor devolvida de Iemanjá.

Virei meu barco para aportar em ti, praia distante.


CENAS


Estava numa mesa contigo ao lado. Eu tinha vinte mãos em ti enquanto sorria, aéreo e me perguntavas, sem falar, como eu conseguia te deixar louca sem que ninguém percebesse.

Há um lance decidido, súbito, de uma só vez, de surpresa, que pega da base ao topo ao mesmo tempo. Encaixe nem sempre perfeito, mas poderoso. e perigoso: pode criar grude para muitas vidas.

O que foi destruído está invisível. Ruínas antigas que não nos visitam. Somos criaturas de calçadas luminosas, acesas pelo nosso encantamento.

Choveu para espalhar tua imagem na poça do meu sonho. Te fragmentaste em mil luzes de estouro. Lancei um lenço para enxugar minha sede.

Voltou o calor no outono. A noite nos cerca com suor e fogo. Quero ver aquela parte que teu sorriso esconde.

Avisei que esperasse a meia noite. É quando a noite arruma as rendas depois do banho. Quando te entregas sem motivo aparente, talvez só porque lembrou de um poema.


RETORNO - Imagem: obra de Pino Daeni.

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