2 de abril de 2012

LESTE


Nei Duclós

Deus escuta, mas poesia ele presta mais atenção.

O Leste banha a pomba no telhado e roça a luz na montanha, verde clara sob o céu de um azul que desmaia.

As letras são o corpo físico do que pode ser lido no ar.

Realidade e Fantasia são duas atrizes que trocam de papel nos exercícios de um laboratório contínuo. O poeta escreve a dramaturgia.

Foto é como estrela, tem a luz de momentos passados. Mas é real, assim mesmo.

É possível enfrentar um batalhão armado sem piscar o olho. Mas não a decisão de te telefonar sem suar frio.

Não se esconda, nua. Flua, com tua pele de seda.

Olhas subitamente para trás e lá estou eu, flagrado em pleno encantamento.

Tão juntinha que muda o paradigma. Me estudas enquanto respiro.

Não se entregue ao verso conhecido.Palmilhe outro círculo. Há desperdício de espera por ti em lugares ermos. Abra a porta não percebida.

Você é minha carícia. Sei, palavra repetida. Mas o corpo não se importa, fala outra língua.

Fique comigo. O melhor está por vir, estribilho.

Quero-te, espanto. Não há como escapar da curva do teu corpo.

Não fique no canto quando canto. A poesia é o som das cordas que o coração fia.

Fiquei um tempo longe do teu laço. Exílio é pouco para tanta falta.

Não são apenas palavras que nos enredam no mesmo linho. É esse desalinho, território comum da poesia a dois.

Há tempos não falo sobre teus lábios. Silencio sobre teu maior charme.

Não deixe que o tempo roube os minutos que me deste nas tardes imaginadas de conversa.

Abandono depois da sedução: será remorso, prudência, suspeita ou uma frase errada?

O brilho do dia convida para um olhar mais largo, fora do limite imposto pela burocracia, a carestia e a violência dos poderes brutos.

Tens outros poetas, mas não por muito tempo. Acabas sempre grudada em meu soneto.

Fui dormir pensando em ti. Acordei num sonho, que sonhavas por mim.

Passou da meia noite. Essa me passou. Quando vi, já era alto mar no mar da noite.

Não fui embora, fiquei na cidade. Queria que contasses os dias desperdiçados, arrependida.


CRESCENTE


Hoje é Crescente, na companhia de Vésper. Duas que aprontam no céu do Outono.

Crescente é como tu, cada vez mais próxima do limite, quando então brilharás sobre o cosmo escuro

Hoje a Crescente quer causar espanto. Armou-se de luz como se fosse Cheia. E ilumina a noite, convidando ao beijo.

Espero que retomes o ritmo. Me ver a cada volta da Lua.

Lembro esta manhã, quando tocaste meu ombro. Faz tanto tempo que dói.

É cedo para acumular tanta poesia. Vamos deixar que a Lua se encarregue do serviço.

Amor, palavra sagrada. Pisa devagar quando chegares à sua morada. E abra as janelas quando o ar falta, para que vejas a Lua enquanto te acabas.


RETORNO – Imagem desta edição: Maria Sharapova.

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