24 de fevereiro de 2010

FALKLANDS: O QUE É POLÍTICA EXTERNA?


Desde os anos 1830 as ilhas chamam-se Falklands e fazem parte de um outro país. Por estarem situadas a 450 quilômetros da Argentina não significa que devam pertencer, obrigatoriamente, a ela. A culpa geográfica dos britânicos é estarem a 13 mil quilômeros desse território. Isso é um estopim permanente. Qualquer coisa pode virar guerra. Agora é a vez do petróleo, mas podia ser qualquer outro motivo.

Mas o presidente Lula, que considera a platéia internacional uma claque de botequim, acha um absurdo que um território estrangeiro não seja simplesmente anexado só pela proximidade geográfica. Se é esse o caso, então temos direito á Argentina, que fica ao nosso lado.


Uma coisa que o governo Lula não entende é a natureza da política externa. Talvez não saiba os motivos de um chefe de estado alemão ser o chanceler. A verdade é simples e cristalina. A política externa existe em função da política interna. O Brasil não tem nada a ver com Honduras, França, Malvinas, África. Não tem que meter o bedelho em Israel, Palestina, ou o que seja. Precisa apenas cuidar da sua política interna. Quando essa política interna tem vínculo, relação com os países estrangeiros, aí o Brasil deve interagir. Mas não se meter assim porque se acha.

Não pode, portanto, mandar tropa para o Haiti. O que o Haiti tem a ver com a nossa política interna? Nada, estamos lá de metidos. Agora, se compramos gás da Bolívia e a Bolívia nacionaliza empresas brasileiras, então precisamos agir. Se o Chavez resolver anexar o Acre, precisamos agir. À parte isso, nada temos a ver com a revolução bolivariana, eles que se vistam de vermelho e citem Trotski o quanto quiserem.

África, por exemplo. Cultiva-se a culpa de o Brasil ter trazido milhões de africanos para serem escravos aqui. O que temos a ver com isso? Nada, essa foi uma realidade de quatrocentos, trezentos, duzentos anos atrás, a cargo de outras pessoas. Não podemos agora ficar incensando a Africa porque temos uma divida com ela. Nem devemos ficar perdoando empréstimos, como o Lula fez a três por quatro, dando força para inúmeros estadistas suspeitos do continente africano. Precisamos impedir que haja escravidão, preconceito racial, exclusão, mas não se chibatar em função de uma culpa histórica.

O que precisamos é ficar atentos com as empreiteiras que enriqueceram com o dinheiro público aqui e estão agindo na África com esse cacife acumulado. Nosso caso africano é com as negociatas das megaempreiteiras. Ou seja, o governo precisa intervir contra essa interferência e não ficar sentindo culpa por ter escravizado africanos.

A França nos interessa na medida em que a indústria de armas consegue contratos milionários superfaturados aqui dentro. Não porque tenham a Torre Eiffel ou exibam a Carla Bruni. Se Honduras expulsa o presidente porque quis dar um golpe maroto usando as eleições, o Brasil precisa se fechar. Por que? Porque Honduras não faz parte da política interna, portanto não interessa, muito menos suas eleições ou golpes.

Hoje os ingleses e os holandeses estão pesquisando os reais motivos do envolvimento dos seus países na guerra do Iraque. Na Holanda, me explica meu filho Daniel Duclós, o daniduc (que me visitou com sua querida esposa Carla aqui na ilha), e que mora lá, a briga tem a ver com a política interna do país, com luta pelo poder. Não é porque a Holanda tenha a ver com a luta contra o terrorismo, mas porque enviar ou não tropas tem a ver com os conflitos internos.

Mas a Holanda é uma invenção da engenharia hidráulica e uma determinação do povo e seus governantes, enquanto o Brasil é um continente que se construiu num processo bem mais complicado. Nossos vizinhos estão longe, e estamos envolvidos no projeto internacional de especulação financeira porque deixamos frouxo e barato. Os governos brasileiros adoram entregar o país, deve ser sinal de status. Então, não adianta fingir macheza quando baixamos as calças para a extorsão. Nosso relacionamento internacional deve ser pautado pela soberania. Impedir que suguem todos os lucros produtivos e financeiros, que comprem matérias-primas adoidado é a missão de um governo decente.

E não ficar tomando partido do Irã, da Venezuela ou da Argentina. É preciso enquadrar os estrangeiros nos nossos interesses e não ficar viajando fazendo discurseira sem sentido.

RETORNO - Imagem desta edição: o monumento ao Barão do Rio Branco na praça do mesmo nome, bem no coração de Uruguaiana: o estadista que sabia o que é política externa e por isso nossa política interna conquistou inúmeras vitórias.

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