21 de agosto de 2008

O MAU USO DA CRÍTICA


Quando a Argentina foi eliminada da Copa de 2002 e o Brasil venceu a Inglaterra e, contra todas as maldições dos comentaristas vendidos, passou pela invencível Alemanha e conseguiu o pentacampeonato, a imprensa portenha disse: “Viu, Argentina, é assim que se faz.” Não disseram: “Veja, Argentina, você é uma porcaria, não serve para nada, não tem espírito de seleção, está de salto alto, nunca prestou mesmo, não vale nada, nasceu para perder.” Os argentinos, assim como nenhum outro povo, nega a nacionalidade na hora da derrota, como fazemos por aqui. Num dia Ronaldinho era o rei, no dia seguinte era capitão de um time de cornos, como insinuou o Casseta e Planeta.

A seleção foi mal contra Argentina? Foi. Mas foi ótima contra Camarões, time forte despachado por dois a zero. Foi avassalador contra China e Nova Zelândia, times fracos, mas bem que poderiam oferecer perigo, principalmente a equipe da casa, se os ventos soprassem ao contrário. E foi bom contra a Bélgica, ganhando apertado de um a zero, num jogo em que a mídia vendida caiu em cima dizendo que era um timeco. A Bélgica quase chegou à final, foi firme em frente, provando que era uma adversário forte na nossa estréia. Quando vencemos a Bélgica, fui o único a defender a seleção. O resto caiu matando.

Mas como perdemos por três a zero dos argentinos, estão tudo volta à vaca fria. É de ver a arrogância do chamado “povo fala”, as falsas entrevistas, armação da mídia para reiterar conceitos. “Brincadeira, isso não é seleção, Dunga pede para sair” e por aí foi. A competição foi difícil, nossa seleção era boa, mas deveria estar melhor preparada. Isso podemos dizer. O que não podemos é cagar em cima da camisa canarinho, é xingar jogadores. Gostei do Rafinha, que tem toda a vocação de ponta, apesar de não existir mais essa bela posição, hoje chamam de volante ou sei lá o quê.

Gostei do Hernanes, firme no primeiro jogo, mas irregular nos outros. Achei que Pato deveria ter mais uma chance e não ser cortado como foi, e que Diego poderia render mais, assim como Ronaldinho Gaúcho, que, apesar de tudo, fez seus gols. Gostei do goleiro Renan. Mas não achei Marcelo isso tudo o que Galvão Bueno disse. Parecia coisa combinada. O Marcelo tocava na bola e o Galvão exultava. O que foi aquilo? Achei que combatemos o bom combate e notei como a seleção faz bem em tocar a bola (nem sempre com acerto, infelizmente) para manter a posse do jogo e tentar furar o bloqueio adversário. Por que vaiar quando tocamos a bola? A verdade é que todo mundo quer colher e ninguém plantar.

Caem em cima do Dunga dizendo que temos outros treinadores melhores. Temos. Mas vejam só. O Luxemburgo não teve que sair nas eliminatórias porque o Brasil estava perigando? Quando tínhamos o Felipão, todo mundo xingava de burro. O cara teve que fechar o time para a imprensa, se concentrar ao máximo para sair de lá campeão. Não combato aqui a capacidade da crítica, o direito à crítica, mas o mau uso do espaço da crítica para negar tudo o que somos, para fritar profissionais. Quando vejo a seleção feminina chegando na final lembro que só o Luciano do Valle dava força no início, o resto, Globo principalmente, ignorava olimpicamente, com todas as letras. Agora o Pedro Bial (sempre ele) dá entrevistas sobre o time feminino, dizendo como ele acredita nas meninas. Ora, cate-se. Quero ver se não vencermos hoje o que não vão dizer. Se ganharmos, e acho que sim, todos vão querer pegar carona nesse ouro.

Posso falar porque há tempos abordo o futebol feminino revelado a mim pelo Bolacha, o Luciano do Valle. Se as mulheres vencerem, imagino a quantidade de abobrinhas que vão falar sobre o gênero, sobre o fato de serem mulhéééérrr. Não tem nada a ver. Marta é uma coisa, Marília Gabriela outra.

RETORNO - 1. Imagem de hoje: o que mais falta para Ronaldinho, campeão do mundo, provar alguma coisa? Acontece que se alguém brilha, fica fácil fazer cobranças, só para tentar deslmoralizar o talento. "Viu, não é de nada, viu?" Ora, ora. Vão chutar pedra. 2. Perdemos para as americanas na final. Boa a dúvida da Marta: "Não sei o que acontece nas finais. A bola não entra." Talvez falte o país dar uma mãozinha, não deixar que brote craques do nada como Marta, ajude a termos um futebol de massa, fundado na rede escolar pública, nas universidades. Sei lá.

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