14 de julho de 2007

VAIA SINFÔNICA NO MARACANÃ



Disse um ministro do governo que a poderosa, densa, insistente, volumosa vaia que o presidente Lula amargou na abertura do Pan foi coisa orquestrada. Então, pelo que podemos ver e ouvir no you tube, foi uma orquestra sinfônica e o maestro é a indignação popular. No momento em que há uma brecha, em que a platéia não é comprada como ocorre nos programas de auditório, em que não existe animador manipulando os gestos coletivos, no momento em que há uma oportunidade de a população se manifestar de maneira unânime, consensual e irreversível, então temos uma pálida noção do que seja um acontecimento realmente sincero, verdadeiro e demolidor.

O Rio de Janeiro é a capital do Brasil Soberano. Foi para eliminar a memória da grandeza do país que a cidade maravilhosa perdeu seu status de capital do país. O Maracanã é obra da era Vargas: gigantesco, soberbo, inesquecível. Palco de grandes manifestações e de grandes frustrações, é lá que o Brasil se encontra, no Rio, caixa de ressonância nacional, como costumava dizer Leonel Brizola. Não se pode negar o repúdio que este governo recebeu ontem na pífia, complicada e ridícula abertura dos jogos.

Abrindo as pernas, Daniela Mercury cantou Cidade Maravilhosa (é mania das cantoras brasileiras atualmente: quando cantam, dão). Cheia de maneirismos, Elza Soares assassinou o Hino Nacional. E a coreografia coletiva foi uma correria sem sentido, tudo orquestrado por um profissional da Disney, que não encontrou aqui o rigor da dança sintonizada, do ensaio bem feito. Além do mais, quem precisa da Disney? Não temos tantos artistas com capacidade de fazer o serviço? Precisamos ser tão colonizados assim? Sim, a ditadura funciona em todos os níveis da vida brasileira.

Depois de sucatearam a Infraero e a Petrobrás, agora é a vez dos Correios. Nunca foram com tanta sede ao pote. São milhares de cangaceiros, saúvas, vampiros, assaltantes que dominam o dinheiro público. Passaram vinte anos denunciando a corrupção e quando tiveram acesso ao butim nele se locupletaram. Merecem mesmo ser vaiados na cara, pegando fundo, fazendo chorar, sem dó nem quartel. Não adianta a televisão amenizar, os jornais acharem que foi uma confusão de protocolo. Foi uma imensa vaia contra o governo traidor do presidente Lula. Por que a imprensa não assume isso? Porque está comprada, claro.

Se fôssemos comparar a vaia a uma sinfonia, escolheríamos as do Beethoven, a quinta ou a nona. Ou mesmo à ópera O Guarani, de Carlos Gomes, que funciona como uma sinfonia, pelo menos para mim, que pouco entendo disso. É um som glorioso que nasce nas catacumbas do talento e da fúria e assoma na vida nacional como um alerta, uma advertência. Nos últimos dias, vi como o monopólio televisivo encheu o saco mostrando as maravilhas do Pan que iria vir. Bastou inaugurar os jogos e já deu problema técnico de iluminação. É tudo marketing. Vejam como as remadoras brasileiras são sincronizadas e sentem saudades dos seus bebês que não vêem há muitos dias. Parem com isso.

A população (não podemos dizer povo, senão nos chamam de populistas) do Maracanã é uma síntese do Brasil. Eu estava representado lá. Isso sim é uma eleição verdadeira: Lula, adeus. Fora, fúúú, chega. Não vá gastar outro bilhão em publicidade para reverter a situação e dizer que você é o rei da cocada preta. Não é. É um presidente traidor, repudiado pelo povo. Sim, povo. Repetindo, como diz o samba: "Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão". Soube que o governo descadastrou um milhão de pessoas do Bolsa-Miséria. Claro, o serviço foi feito: a compra de votos. Agora não precisam mais. Só na próxima eleição. Depois falam dos caciques que trocavam voto por dentadura e óculos. Fizeram exatamente a mesma coisa. Búúú. Viva a vaia!


RETORNO - Imagem de hoje: cena de O Guarani, de Carlos Gomes.

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