4 de maio de 2007

LEIS ESTÃO À VENDA


Deu em tudo que é jornal, portanto não vou me estender aqui sobre detalhes. Mas o que mais me impressionou na prisão de 19 figurões aqui de Florianópolis, entre empresários e políticos, acusados de manipularem licenças ambientais para mega-empreendimentos, é que as leis podem ser compradas. Não se trata apenas de manipular a lei, mas de colocá-las à venda. A corrupção, se for comprovada nesse caso, é capaz de gerar decisões jurídicas de longo prazo em favor de seus interesses. Mas isso todo mundo sabia! Mais grave ainda. Todo mundo sabia e todo mundo se calou. Se isso não é ditadura, então não sei o que é.


CÍRCULO DE LEITURA

Tive a honra e o prazer de participar do Círculo de Leitura, evento organizado pela Editora da Ufsc por meio de seu diretor, o poeta Alcides Buss, a quem conheci pessoalmente e ganhei ainda um autógrafo no seu livro Cinza de Fênix. As pessoas presentes levaram os livros que estão lendo, mostraram e comentaram. O Círculo acontece toda primeira quinta-feira do mês e já existe há quatro anos. É uma iniciativa poderosa para a disseminação do hábito de ler, para incentivo aos que se debruçam sobre as obras e pelo encontro proporcionado entre leitores, sempre gratificante.

Eu falei sobre as quatro fases de leitura sistemática que aconteceram comigo. A atual, que começa em 2001, em que leio para escrever sobre o que leio e aprofundo um trabalho de ensaios sobre literatura, dando ênfase a grandes autores antigos ou contemporâneos e também aos escritores poucos conhecidos, inéditos e esnobados pela mídia. A imediatamente anterior, de 1980 a 200, em que mergulhei nos livros de História, especialmente as memórias de ex-combatentes, leitura que me levou à USP. A da juventude, nos anos 60, em que tomei conhecimento de Fernando Pessoa, Garcia Lorca, Mario e Oswald de Andrade, João Cabral de Melo Neto, irmãos Campos, Mario Chamie, entre muitos outros. E a da infância e adolescência, em que li toda a obra infantil de Monteiro Lobato, mais as aventuras escritas por Emilio Salgari, com escapadas proveitosas para “O Continente” de Erico Veríssimo e “O morro dos ventos uivantes”, de Emily Bronté.

Como lembrança do encontro, recebi de presente, autografado por todos os que compareceram no espaço Cruz e Souza (que é a própria livraria), a obra "Leituras do Hipertexto - Viagem ao dicionário Kazar", de Raquel Wandelli, publicação da editora da Ufsc. Disse na ocasião o quanto me honrou o convite e o quanto fiquei feliz com aquela roda de amigos da leitura.


MORAL NO PLURAL

Tom Jobim dizia que Vinícius de “Morales” era uma pessoa moral, daí seu nome. O que dizer de Evo Morales, que na sua insurgência contra o imperialismo e a exploração acaba ferindo de morte, em seu território, os investimentos brasileiros da Petrobrás? Chamá-lo de ladrão não seria elegante, mas podemos sugerir que seja um sujeito “imorales”. O mais grave é que ele foi apoiado pelo governo Lula como símbolo da grande guinada da América Latina para a libertação política e econômica. Você não se liberta ferindo os princípios da moral e da ética. Você dá o exemplo proporciona à sociedade sedenta de Justiça o que a Lei, esse acordo inspirado na sobrevivência espiritual do humano, decide. Não adiantam leis se elas são compradas. Não adianta discurso de libertação se você começa tungando seu vizinho.

Mas isso é ingenuidade, dirão. Naif, o anátema extremo. Babaca, trouxa, looser. Acorde para o mundo, costumam dizer. Um dia acordei. Estava nublado. Então comecei a ciscar nos livros o espanador dos anjos. Eles vieram e tingiram o céu de sol e estrelas. Que besteira, para que serve a poesia? Serve para peitar os plenos poderes. Para isso serve o poema: para ser o soco que a política tem vergonha de dar.


RETORNO - Imagem de hoje: Praia de Ingleses, foto gerada pela visita de Daniel e Carla Duclos, que conosco passaram o feriadão.

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