1 de outubro de 2006

IMPRENSA AGUARDA INFORMAÇÃO





A queda de um avião é a prova dos nove do jornalismo. A tragédia nos dirá se temos imprensa ou não. Pelo que vimos, não. As redes menores, Band e Record, ficaram rolando pelos aeroportos com a pauta única da falta de informação sobre o acidente. Mas não é o jornalista que precisa informar? Por que ele depende de releases da empresa para dar qualquer notícia? No fundo, a cobertura dessas duas redes encarnava as lamentações, legítimas, dos parentes das vítimas, enquanto deixava de lado sua função de informar. Quando chegou a vez da Globo, vimos que a rede maior tinha todos os dados das fontes: a repórter já estava lá em Peixoto Gomide, município mais perto do evento (enquanto a repórter da Band telefonava da estrada em direção a ele), confirmava que não havia sobreviventes, ou seja, era o próprio release oficial. O que as outras redes procuravam a Globo deu. Com um detalhe: não foi notícia, mas a versão oficial dos fatos.

LINK - O que precisava ser feito? Qualquer chefe de reportagem sabe. O avião caiu na mata? Toca repórter e fotógrafo para lá. Vai de avião executivo, desses que sobram nas grandes empresas de comunicação. De lá aluga um helicóptero, desce junto com os para-quedistas. Gruda na equipe de resgate, bota link permanente no ar, informa. O avião caiu de manhã e à noite ainda tinha gente chorando sem saber o que realmente tinha acontecido. Bateu em outro avião (que tinha sobreviventes, onde estão as entrevistas com eles?), caiu, todos os passageiros morreram. Essa era a notícia, que deveria ser dada de manhã. Investiga, checa informação oficial, abastece os parentes das vítimas com dados extra-oficiais. Faça jornalismo. Mas não fica fazendo balanço de acidentes (os mesmos, que vemos há décadas), ou materinhas sobre a empresa do avião em queda. Tirem os terninhos engravatados, corram risco, esqueçam os assessores de imprensa. Quem deve ficar se lamentando são os parentes das vítimas, não a imprensa. O jornalismo não pode ficar aguardando informação. Precisa ir atrás.

A SEGUIR - O que mais irrita é ver apresentador anunciar o a seguir. Sabe como é: a seguir, notícias sobre o acidente. Aí no bloco seguinte vem alguma matéria pífia sobre essas coisas de sempre, as ongs, os com certeza, o clima (como tem espaço para o clima; o noticiário virou uma estação metereológica). Aí no a seguir não vem coisa nenhuma. Anunciam novamente: a seguir, o avião. E nada. Quando finalmente chega, não há reportagem. Temos seguradores de microfone anunciando que é só para ter uma idéia, que não pensou duas vezes, que não é para menos e que é afinal...O fato é que as redações acabaram. As empresas de comunicação divulgam o que é liberado para divulgar. Perdão pela insistência, mas isso só em ditadura.

IDIOTAS - Já votou? Não esqueça: se você não eleger o Lula no primeiro turno, será chamado de idiota. Nem pense em votar nulo, eles ficam furiosos. Também não esqueça: se não votar no Lula, serás de direita. Terás uma suástica gravada no peito. Eles se adonaram da revolução. O que temos hoje? A revolução é a cabeça de porongo do Hugo Chavez, o olhar moribundo dos candidatos para frente. Já votou? Sorte sua. Imagine um regime em que ninguém pode votar. Pelo menos agora você vota e tudo continua a mesma coisa.

RETORNO - Imagem de hoje: segure o microfone e serás da imprensa.

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