9 de outubro de 2006

DEBATE-BOCA NA BAND





A ditadura dá as cartas e nos oferece dois candidatos que se diferenciam na dose do veneno, mas o eleitor, na pequena margem de manobra que dispõe, pode gerar um mínimo de alternativa. É de olho nesse voto mutante que Alckmin e Lula se digladiaram ontem na Band, com óbvia vantagem para o primeiro, que ganhou no detalhe. Primeiro: Alckmin chamava Lula de candidato e este se referia ao adversário como governador e Vossa Excelência. Lula queria ser irônico, mas foi, em todo o percurso do debate-boca, trapalhão. Estava com a cara vermelha e enrolava a língua, enquanto o outro, mantendo sua postura de executivo em missão suja desferia todo tipo de golpe. Lula perdeu votos. O que percebemos é que ele quer que todos agradeçam sua gestão no governo, como se fosse um enviado do Divino. Seus quatro anos foram um pesadelo, de miséria, terror e corrupção. Não dá para entender como pessoas esclarecidas se deixem levar por lábia tão tosca.

POPULISMO - Segundo: Alckmin cresceu às custas das imperfeições do seu oponente. Dizem que Lula saiu furioso da Band, pois viu que não estava preparado para o momento. É típico de Geraldo, crescer onde os outros erram. Hoje ele possui uma grande vantagem sobre os outros tucanos notórios: depois de ter sido esnobado, não precisa mais deles. Fez-se praticamente sozinho, apostou que poderia vencer a parada e agora tem mais chances do que nunca. Ontem, falei que a imprensa não se referia ao voto anti-Lula, mas uma pequena matéria da Folha mostrava como um município do interior gaúcho, que votou majoritariamente em Alckmin, nem sabia quem ele era. Queria apenas que o nefasto se retirasse do poder. O problema é que por trás de Alckmin tem essas coisas como Maílson da Nóbrega, sinal de que a política econômica entreguista não vai mudar. Mas o povo é um sobrevivente e tudo indica que vá escolher aquele que não estiver totalmente envolvido na aniquilação do país e de seus habitantes. Impressionante como tudo o que falavam mal do trabalhismo é feito hoje de maneira escancarada: o populismo das esmolas (chamadas de programas sociais), por exemplo. Na Era Vargas, o salário do trabalhador brasileiro equivalia ao da Europa. Isso sim é política social.

FUSQUINHA - Terceiro: ficou claro no debate que Lula, pela lógica, não pode ser inocente de todo o esquema em que se envolveu, do mensalão ao dossiê fajuto. E que gasta o que não deve. Comparar o caríssimo aerolula com o fusquinha do tempo do sindicato é de uma pobreza sem par. Quando Alckmin acusou a política externa do atual governo de fracassada, Lula saiu-se com essa: como dizia minha mãe, cada macaco no seu galho (!). Esse populismo à toa das expressões significa a má condução do candidato por parte dos que o aconselham. É simples: os pseudo-intelectuais que o assessoram têm uma idéia errada de povo. Acham que povo é uma coisa tosca e que gosta de ouvir esse tipo de barbaridade. Então eles sugerem que o candidato use expressões dita populares, para ganhar e manter votos. Só que o povo tem uma auto-imagem completamente diferente desse tipo de percepção vinda do preconceito de classe. O povo se tem em alta conta e foge da banalização. Pode cair em armadilhas, mas quer mesmo é a auto-superação e não ficar chafurdando na ignorância.

SOBERANIA - Por isso é possível que dê Alckmin no dia 29 de outubro. Se Geraldo for inteligente, poderá mudar o jogo da ditadura e fazer um governo que preste. Se for burro como Lula foi, será defenestrado na primeira ocasião. Se focar na soberania nacional, e não na entrega de mão beijada do país, ficará na História. É muito difícil que tudo isso aconteça. Mas depois da decepção Lula, o Brasil tem direito a sonhar mais alto. Antes, precisa tirar esses sinistros do poder e seu principal líder, o deslumbrado ágrafo que nos governa.

RETORNO - 1. Imagem de hoje: Família, de Fulvio Pennacchi. 2. Por problemas técnicos, meu site http://consciencia.org/neiduclos, está fora do ar desde sábado. A promessa é que tudo se regularize amanhã, terça-feira.

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